Raízes do Passado Sustentando o Presente

Roçava seus pés na terra,

Dava seu grito de guerra

Para seu cão, seu companheiro.

No chão com seu cão rolava,

Quando sua mãe gritava:

Menino não suja o terreiro!

Corria descalço e sorria contente,

Tomava seu banho nas águas correntes,

Se vestia com o corpo molhado.

Respirando o ar puro,

Se sentia tão seguro,

Como um tronco bem fincado.

Livre e feliz ele vivia

O pequeno inocente não sabia,

De uma infância prematura.

Para luta foi convocado,

A trocar pelo rosto suado

A sua vida de travessura.

Começa sua jornada,

Sua caneta era a enxada,

Que escrevia na terra quente.

As pessoas não avaliavam,

Que na mente passavam,

Daquele pingo de gente.

Os bate-papos no fim do dia

Enquanto falavam, ele ouvia

Com atenção redobrada.

Aumentando sua bagagem

Para enfrentar com coragem

As suas futuras jornadas.

Ouvia com toda atenção,

Quando lhe davam explicação,

Nas tarefas que lhe confiavam.

Sua vontade de vencer,

Chegava até surpreender,

Aqueles que o orientavam.

Seus planos não saíam da mente,

Em lutar pela sua gente,

A procura de um abrigo.

Olhava seus braços finos,

E pedia que o destino

Fosse seu aliado e amigo.

Muitas vezes foi renegado,

Em escola não foi educado

Seu trabalho não permitia,

Sem afeto e sem carinho,

Com ajuda ou sozinho

Teria que vencer um dia.

Lutava como adulto,

A procura de um indulto,

Com coragem e sem receio.

Às vezes era humilhado,

Pelos mais afortunados

Ele era um produto do meio.

Quando na igreja ele entrava,

Bem baixinho ele rezava,

Pedindo uma proteção.

Pelo que fez de errado,

No seu humilde passado,

Na prece pedia perdão.

Calças curtas, pés no chão,

Só os braços e as mãos,

Tinham como bagagem.

Na sua vida de luta,

O ideal era a batuta,

Que regia sua coragem.

Há passados em nossa vida,

Que voltam a ser revividos,

Em determinados momentos.

A lei do retorno nos determina,

Às vezes até nos ensina,

A nos olharmos para dentro.

Hoje me lembrei deste menino,

Na hora que repicou o sino,

Da capela da cidade.

Aquela raquítica criança,

Cheia de tanta esperança

Procurando a felicidade.

Ouvi chamar o seu nome,

No lugar da criança levanta um homem,

E se encaminha para o altar.

O mesmo altar que outrora,

Olhava para nossa Senhora,

E se punha a rezar.

Entre cântico e oração,

Os fiéis dando as mãos,

Colocou a esmola na bandeja.

Ficou feliz nesta hora,

Nenhuma criança de fora,

Daquela modesta igreja.

Naquele momento só eu sabia

De um passado que se fazia

Tão vivo em minha lembrança.

O homem ali sentado

Retrocedia no passado

Para viver sua infância.

No aflorar de nossa vida

O destino abre a ferida

Que não cicatriza na mente.

A gente fica preocupado

Em trazer o nosso passado

P’ra juntar com o presente.

Se achar sem sentido

Estes meus versos perdidos

Faça sua crítica moderada

Lembrando que a mão que os escreveu

Não foi a mão que bateu

E sim a que defendeu da pancada.

Otaviano de Carvalho
Enviado por Otaviano de Carvalho em 05/09/2008
Código do texto: T1163682
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