Ca-de-ia-de-vi-da
... o dia no que minhas mãos, as minhas nojentas mãos, foram se unir nos montes, contra a chuva e o vento, cara o oceano, minhas mãos, as minhas chagadas mãos, com outras cem mil mãos, pelas praias e cumes, entre areias e tojos, lama e pinheiral, com bandeiras brancas contra o cheio de alcatrão, todos os nãos foram sins, cantares e berros, todos os eus tus, naquele mar de mãos contra o horizonte sem fim, mar pelo mar, os barcos com suas sereias ao ver aquela imensa onda cheia de cores a cintilarem, rumores de fundo, ao longe, ecoando, nos cânticos das vozes moças, um mar frente ao mar, desde os helicópteros pequenos pontos móveis a traçarem a linha curva da ria alta, estrelas na terra, um céu frente ao céu, na manhã, desenhando sobre a areia a palavra VIDA, naquela manhã, minhas mãos, na que já não chovia, as minhas nojentas mãos, quando cada um foi nenhum, sem distinção, as minhas chagadas mãos, entre toda aquela gente, uma-e-nem-uma, quando por um instante todas as feridas cauterizaram...