VENTINHO INSTIGANTE

Ontem à noite, no quintal,

eu, prosaicamente,

estendia roupas no varal

- minha rotina de sempre -

quando um ventinho

gelado

me envolveu, descuidado,

me fazendo cosquinhas,

brincando comigo,

me fazendo tremer.

Era um ventinho

maroto!

Lambeu o meu rosto,

assanhou meus cabelos,

sussurrou-me no ouvido

uma indecência qualquer.

Era um ventinho

dengoso!

Cheirobeijou meu pescoço,

balançou meu decote,

arrepiou-me inteirinha,

despertando a mulher.

Era um ventinho

atrevido!

Levantou meu vestido,

alisou minhas pernas,

apossou-se de mim

e me encheu de prazer.

Era um ventinho

conhecido!

Já esteve, antes, comigo...

Talvez num Março distante...

Talvez num outro quintal...

Talvez com um outro querer...

Era um ventinho

instigante!

Naquele mesmo instante

me fez voltar ao passado,

doendo de tanta saudade!

Saudade...

Não sei de quem ou de quê!