INFÂNCIA
por Regilene Rodrigues Neves
Ainda menina resvala na saudade
Trazendo na memória a minha etérea criança
Que ainda brinca com meus filhos
Que em cada brinquedo relembra
Os tempos da minha infância
Nas únicas lembranças de carinho
Do meu pai que sempre a caminho da igreja
Ia levar para nós brinquedos
Único gesto de amor entre nós...
O resto são lembranças de maus tratos
A minha amada mãe e meus pequenos irmãos...
A lembrança dolorosa
De quando ele voltava
Das longas viagens a trabalho...
Era que largava o prato
Se estivesse comendo
E debaixo da cama me escondia
Tamanho medo da sua presença...
Mas nesses dias únicos
Dele me aproximava
Num gesto de pai...
Os olhos se enchiam de maravilhada alegria
Entre meio a tantas necessidades
De minha mãezinha para sustentar-nos
Sete filhos, cinco homens e duas meninas.
Separados pelas fraquezas dos seus vícios
Que a maltratavam com seus espancamentos...
Essa era nossa única ligação
Encontros a caminho da igreja
Uma recordação etérea
Em puro coração de criança
Que sem mágoas só queria
O amor de um pai!
Mesmo nas dores marcadas na minha infância
Estas são as memórias guardadas do seu amor
Que em encontros esporádicos levava assim
Um pouco de carinho paterno
Talvez para que não nos esquecêssemos
Que tínhamos um pai sobre tantos sofrimentos
Que ele nos deixara na alma...
Não pelas necessidades que essas superamos
Em lutas diárias da vida,
Mas no coração de uma criança
Ficam marcas profundas
Que crescem conosco
Muitas são superadas pela própria vida
Que tem necessidade de crescer,
Mas esse crescimento é paralelo
Ao retrato da nossa infância...
Hoje numa reflexão
Como mãe de filhos
Também sem a presença dos pais
Penso será que temos que carregar
De geração pra geração
Nossas frustrações e infelicidades...
Porque ele também tivera a mesma sorte
Não recebera amor dos seus pais
Perdidos ainda criança pelos mesmos vícios
Que nele alimentou vida afora...
Confesso sinto um dissabor de fracasso,
Por ter dado para os meus filhos esse mesmo legado
De uma infância roubada
Da presença de amor do pai
Sinto o mesmo olhar de tristeza
Em seus olhos levando para um futuro
Ainda incerto, mas já tão cheio de marcas...
Na pequena infância...
Que só quisera ser simplesmente criança
Inebriada de alegria de brincar
Soltar sonhos de felicidade pelo ar...
Sei que eles vão superar assim como superei,
Mas lá no coração fica pra sempre
Uma marca inesquecível
Cheias de lembranças melancólicas
Que não temos como disfarçar
Tem sempre o dia dos pais
Que teima em nos lembrar
Como queria meu pai
Ter podido todos os dias abraçar...
Não sinto nenhuma mágoa dele
Apenas tristezas pelo nosso legado
Que vem passando de geração para geração
Como uma maldição infeliz a ser carregada...
Contudo a infância tem sempre
Alegrias em nossa alma
Que temos que lembra-las acima de tudo...
É a nossa infância que marca para sempre
Nossas doces e tristes memórias...
Em 18 de junho de 2008