PARAISO

Naquele tempo eu tinha doze anos.

Ainda lembro com exatidão.

Visitei Águas da Prata.

Pratânia do meu coração.

Ai, quem me dera voltar a ela.

Como o pássaro volta ao ninho.

Onde é eterna a primavera,

onde nunca se esta sozinho.

Havia pirilampos,

havia corujas com cara de gato.

Borboletas brincando de roda e ...

Boitatá escondido no mato.

E se ainda me lembro bem

havia Rosinha também

que dizia ouvir da flor

os mais belos poemas de amor.

A fonte de água fria e zombeteira

corria por sobre a areia.

Matava a sede do povo

chorava na ribanceira.

Sobre a soleira da porta

tia Zeza dizia com graça.

-Vem banhá, minino peralta, prá dispois a genti cumê,

tem arroiz, feijão, torresmo i água fresca prá mod'bebê!

Nos caminhos por onde andei,

como amar um outro chão?

Se a felicidade, eu só encontrei,

em Pratania, meu torrão.

Passa o vento e nele uma prece.

Que a virgem implora e suplica.

Cuida bem daquela gente,

pois sendo humilde é tão rica.

As estradas de poeira e pedras

são como caminhos para o céu,

onde a lua em meio as trevas

pratanea, pratanea feito um véu

Os filhos da terra, todos de roupa rasgada

eram caboclos de barro com os pés no chão.

Labutavam na roça, no pasto, na invernada,

mas que labuta qual nada, a labuta era só diversão.

Tenho saudade do burrico Grilo.

Que a tantos passeios impus.

De olhar distante e tranquilo

pois também carregou Jesus.

Sobre a relva do lugar

tantas vezes deitei e dormi

Havia cheiro de paraiso no ar

e a noite som de Saci.

Hoje acordo assombrado,

dentro do meu apartamento.

Foi pena estava sonhando

com esse pedaço do firmamento.