O destino de DIRCE

Inacreditável os destinos das vidas,

algumas em suas trajetórias,

deixam imensas marcas e feridas,

outras, carismáticas, escrevem histórias.

Ah! bem a conheci na infância,

de lar paupérrimo, pai bebum,

mãe apática, sofrida, sem esperança.

Na periferia vivia Dirce, lugar comum.

Defronte aos míseros casebres, o campinho

onde com bolas de meia jogavamos peladas

naquelas tardes de verão, nosso cantinho,

chão batido, irregular, traves improvisadas.

E, quando ao final da tarde o arrebol

despencava no horizonte em lumaréus de fogo,

findava mais uma pelada de futebol,

para no dia seguinte iniciar novo jogo.

Na monótona e lúdica alegria,

entre risos e brincadeiras de crianças,

a sombra da tragédia rondou-nos certo dia,

marcando para sempre nossa infância.

O irmão caçula de Dirce, com amigos,

apropriaram-se de uma fubica,indevidamente

sem habilitação, não vislumbraram os perigos

dirigindo o calhambeque perigosamente.

A fatídica notícia não tardou,

o velho carro em curta viagem,

no desfiladeiro se precipitou:

Mário morreu sob as ferragens.

Assim se concretizou o destino

maldito, traçou a desesperança,

mãe no manicômio, em desatino...

pai, demente, perdera a esperança.

A jovem bela da periferia,

foi levada da triste cidade,

adotada por uma velha tia,

aos quinze anos de idade.

Ora, passados quase quarenta anos,

ouví notícias da princesinha de então...

Fiquei chocado, não segurei meu pranto.

Dirce sobrevive com três filhos na favela

seu sustento: catadora de papelão...

em andrajos, trôpego espectro em desencanto!

Obs. História real, preservados os nomes verdadeiros

dos personagens.

Não tenho nenhuma discriminação contra catadores de

materiais recicláveis, ao contrário, admiro muito sua

luta diária para sobreviver.