Pequener e a escolha

já exímio pianista

além de hábil versejador,

o menino de lindas botas lustrosas,

couro legítimo,

camisa de malha de marca,

calça de marca também,

impressionou Pequener:

“sei que nem mesmo Chopin,

com seu fraseado melódico,

me fala mais que você,

quando ouço sua voz...”

que diferença atroz

para o garoto do morro

que às vezes pedia socorro

por não ter o que comer,

mas quando podia dizer

o que ele queria com a turma,

fazia-o com tanta ternura

e aquela cara engraçada

que Pequener, conquistada,

nunca parava de rir

pois o garoto falava

aquilo que ela achava

que era cheio de graça,

coisas assim desse tipo:

“quando como doce de abóbora,

é ele que me devora,

pois como com tanto prazer

que penso que vou morrer...”

Pequener ficou entre os dois

pra escolha do seu namorado:

um pra ser o homem casado,

o outro pra ser seu amante;

um sempre bem arrumado,

o outro usando barbante

pra segurar o calção.

e Pequener parecia

que o mundo adulto entendia,

mas que não o confundiria

com o mundo do coração

Rio, 30/04/2008