A RAINHA DO MAR 1/2
A RAINHA DO MAR I
Era uma vez um país, em que existiu
Um rei entronizado com uma certa idade;
Vivera em guerras e no mundo inteiro viu
Bem mais feiura que beleza, na verdade,
E até então ainda não casara,
Pois fora duque durante a mocidade
E um centenar de mulheres namorara,
Mas sendo de seu pai o terceiro filho,
A ter um herdeiro nunca se obrigara...
Era chamado até Duque Andarilho;
Porém na guerra morreu o príncipe herdeiro,
O seu irmão mais velho... E o mesmo trilho
Seguiu o segundo, chamando-se o terceiro
Quando o velho rei seu pai ficou enfermo,
Visto que agora ele era o filho derradeiro...
Logo a seguir, ocupou o trono paterno;
Apenas filhas haviam tido os seus irmãos,
Todas vivendo em algum país externo,
Com príncipes casadas e vastas ambições,
Cobiça extrema pelo trono do país,
Cada um deles a apresentar suas pretensões...
Havia chance de até correr um chafariz
De sangue em qualquer guerra civil,
Caso vagasse o trono por um triz...
Seria impossível a decisão servil
Do Conselho da Coroa por nenhum,
De outros a ofender a ambição vil...
Seria difícil firmar acordo algum
E deste modo, Dom João era a esperança
Da salvação do reino e o bem comum...
E pela lei que determinava a herança,
Teve o duque sua legítima ascensão,
Preparado, afinal, desde criança...
Mas duvidosa também sua sucessão,
Porque filho ele ainda não tivera,
Já dando margem a má especulação...
Caso morresse sem ter filho, era
Quase certo o estouro de uma guerra;
Viriam tropas aos portos, de galera
Cruzando outras as fronteiras pela serra
E pelos campos do país se chocariam,
Destruição a causar em toda a terra!...
Grandes cidades então destruiriam,
Ficando o reino em atroz devastação:
A derradeira coisa que queriam!...
A RAINHA DO MAR II
Destarte, logo após a coroação,
Dirigiu-se o Conselho ao novo rei,
Claramente a lhe expor a situação.
Disse Dom João que cumpriria a lei,
Mas sem casar por política somente:
“A minha esposa eu mesmo escolherei.”
“Não com qualquer que o Conselho me apresente,
Pensando apenas em formar uma aliança
Com outro reino, enquanto fico descontente...
“Minha experiência feminina longe alcança
E desgostei-me com essas jovens da nobreza,
Sempre tiveram de governar-me a esperança.
“Quero casar-me com a mulher de mais beleza
Que neste reino encontrar seja possível,
Seja ela citadina ou camponesa...
“Não me parece que estrangeira seja crível
Como linhagem favorável à sucessão;
De originar qualquer guerra é até possível,
“Como esse genro de meu primeiro irmão
Ou o que casou com minha outra sobrinha;
Prefiro alguém de minha própria nação.
“A mais bela de todas a minha rainha
Farei, desde que saiba com certeza
Que mais irmãos sua família continha
“Do que mulheres, questão de singeleza:
Que me dê como filho um bom rapaz
E não mais filhas, por maior beleza
“Que tal donzela de trazer seja capaz;
Continuaremos com problema semelhante,
Pois cada genro nova ambição me traz!...
“Ainda sou moço, posso esperar bastante,
Minha saúde é boa e sou bem forte...
Mas iniciem as buscas neste instante!...”
E é claro que iniciaram pela corte,
Mas examinando as donzelas casadouras
De imediato não lhes deu o rei suporte:
“Pouco me importa sejam morenas ou louras;
Nelas só busco a grande formosura;
Posso até examinar as jovens mouras...
“Somente insisto que essa bela seja pura
E tenha, ao menos, dois ou três irmãos,
De preferência sem irmãs, por mais doçura
Que apresentem os seus jovens corações;
Que me garanta essa linhagem masculina,
Sem longos anos de vãs expectações!...”