VLADKO E LODNISSA 1/2

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VLADKO E LODNISSA

(Conto de fadas de William Lagos, baseado

em trechos de três diferentes histórias dos Bálcãs)

VLADKO E LODNISSA I – 9 jan 2023

Em um reino nos Bálcãs encontrado,

havia um rei bastante poderoso,

a quem por vontade do destino caprichoso

uma fiha somente lhe havia restado,

cada um dos filhos em combate derrubado,

deixando o rei com o fado conflituoso

de precisar de a um neto duvidoso

deixar o trono quando aos céus chamado.

Verdade é que Lodnissa era muito formosa

e não lhe faltava multidão de pretendentes,

mas a donzela não queria casar-se ainda.

“Sou muito jovem,” respondia-lhe graciosa,

“Não me interessam tais homens valentes,

só me casarei após a adolescência finda.”

Estava o pai a esperar enfim disposto,

pois não queria à sua menina constranger,

seu ressentimento arriscando-se a obter

ou até um rancor a lhe causar desgosto;

mas sua idade avançava e já estava predisposto

pelas mazelas da idade, pensando até em morrer,

sem sua coroa para um herdeiro conceder,

começando a insistir, mas o lindo rosto

Lodnissa voltava para ele a lhe sorrir

e lhe dizia que somente tinha amor

pelo paizinho, a quem queria tanto;

porém sua mãe já igualmente a insistir,

lhe esclarecia que seu pai merecia tal favor,

já por três vezes a verter copioso pranto,

pelos três filhos que perdera em guerras

e caso seu casamento muito demorasse

e por ela um herdeiro então não alcançasse,

seus nobres iriam disputar-lhe as terras;

mas ela pensava: se ascendesse às serras

de qualquer nobre pretendente que aceitasse,

razão seria talvez que mais se alçasse

essa disputa em função dessas emperras,

entre aqueles que se julgassem desprezados!

Ou isso só como desculpa lhe servia,

porque, afinal, era ainda adolescente

e nos paços de seu pai tinha cuidados

que possivelmente de um marido não teria,

por mais com ela a se mostrar paciente.

Ora, ocorria que ela tinha três sinais,

que a mãe ocultava bem ciosamente,

que acusação de bruxaria era frequente

a quem mostrasse no corpo marcas tais;

sobretudo na testa eram fatais,

em que podiam ser interpretados facilmente

como marcas de algum ser inclemente

ou como símbolos de zodíacos siderais.

Assim, nunca a deixava sair sem usar véu,

na testa preso por bela tiara

e roupas usava com grande pundonor,

sem expor braços e pernas para o céu,

sua pele assim permanecendo sempre clara,

a ser tratada com o máximo louvor.

VLADKO E LODNISSA II – 10 jan 2023

Não que fossem deselegantes tais sinais,

que o da testa assemelhava-se a uma estrela,

sobre um dos joelhos trazia uma lua bela

e um sol no peito, em traços divinais.

Como ninguém vira esses traços naturais,

salvo sua mãe e sua ama singela,

extremamente fiel, sua boca uma cancela,

sua aparência estava oculta dos demais.

O rei seu pai já de há muito não os via,

desde que fora menina bem pequena,

o tempo todo tais sinais cobertos

e quanto ao casamento, ela insistia

seriam prova de sua virtude amena,

só a seu esposo seriam um dia descobertos.

“Mas primeiro ele terá de adivinhar

quais são os três sinais que eu ostento.

Corre um boato com um certo alento

de que três máculas eu deva carregar,

mas ninguém sabe onde as possa encontrar,

minha indumentária nunca ergue o vento,

nem a ninguém sem ela me apresento,

só inspiração divina as poderia revelar!...

Mas se algum homem for capaz de me dizer

quais sejam minhas manchinhas delicadas

é sinal que para me desposar foi escolhido;

só a tal homem é que devo pertencer,

mesmo que tenha feições meio deformadas,

nobre ou plebeu, pelo destino concebido.”

Ficou o rei até meio abalado

e foi se aconselhar com sua mulher,

mas a rainha não lhe deu pista sequer:

“Não sei dizer porque estás transtornado,

sei que em criança as havias contemplado;

eu acho justo que ela queira assim manter

a sua virgindade o tempo que puder

e ainda é cedo para o casamento ser marcado.

Mas se acaso a decisão custar demais,

eu mesma te revelarei tal maravilha

e poderás agir como achares melhor

e ao pretendente que escolher tenhais

poderás contar os três segredos de tua filha,

sem que mais possa recusar o seu favor.”

Corriam pelo mundo sua fama de beleza

e as condições que impusera a casamento;

alguns tentaram quebrar o impedimento,

subornando os criados com vileza,

sem nada conseguir dessa esperteza

e o rei declarou que só daria assentimento,

depois que Lodnissa desse seu consentimento,

mas ela ainda resistia com nobreza.

Mas o rei não sabia e a mãe nunca dizia

e em vão buscaram sua mão imperadores,

mesmo a ameaçar guerra e outros terrores;

outros buscavam quem mágicas fazia,

adivinhos e feiticeiros como inspiradores,

mas o formato dos sinais nenhum conseguiria.