A MOCHILA MÁGICA -- FINAL

A MOCHILA MÁGICA IX

Ele deixou enterrado na lareira um tesouro,

sobre o qual fez cair bem feroz maldição;

nós somos os guardas, ninguém pode pegar;

e lhe agradecemos, belo soldado louro,

mas agora devemos cumprir nossa função:

reze então, se quiser, temos que te matar!”

“Não seja por isso,” falou Brian. “Desejo

que entrem os três dentro de minha mochila!”

Desapareceram os três, com os rabos em fila,

muito bem trancada a mochila no ensejo!...

E embora gritassem, Brian não se importou:

lavou as mãos e o rosto e foi-se deitar;

dormiu toda a noite, na graça de Deus...

No dia seguinte, o estalajadeiro chegou

e batendo na porta, fez o rapaz despertar:

“Mas como escapou, sem ferimentos seus?”

“Ah, dormi muito bem, estava boa a comida,

agora, contudo, quero um bom desjejum;

limpe bem essa mesa e não deixe nenhum

restinho que azede no prato ou em bebida...”

Após comer bem, sopesando a mochila,

o soldado indagou se ali havia um ferreiro;

e sem hesitação, disse-lhe o estalajadeiro:

“Sem dúvida, há oficina do outro lado da vila.”

“Por favor, três rapazes bem fortes consiga

Para levar-me a mochila, pesa como uma viga!”

Ficou o estalajadeiro bastante surpreendido

vendo quanto pesava tão pequeno objeto;

e o carregaram os três, com um medo secreto,

até a ferraria, em um canto escondido...

Então Brian pagou muito bem ao ferreiro

para malhar a mochila, com toda a energia:

“Não tenha receio, que não vai se rasgar!”

Mas assim que bateu, ouviu-se um berreiro

e logo o vigário da vila surgia,

que Brian chamara para a mochila abençoar!

Só assim o ferreiro seguiu martelando

e até os três rapazes no trabalho ajudaram:

durante a manhã, todos se revezaram;

após a benzedura, o clamor silenciando!...

A MOCHILA MÁGICA X

Depois a levaram até a beira do rio

e Brian desejou que dela saísse

todo o seu conteúdo, num jato ligeiro.

Escorreu uma poeira vermelha num fio,

depois amarela, que então negra seguisse;

a mochila perfeita, sem rasgão, tudo inteiro.

Após pagar todos, retornou à estalagem

e fechou-se no quarto com o estalajadeiro.

“A maldição acabou, meu bom companheiro;

e eu até poderia lhe fazer malandragem...”

Mas sei que há um tesouro no sopé da lareira,

se o acharmos agora, rachamos meio a meio?”

“Ora, é claro!...” disse o outro, sem acreditar.

“Porem há outra coisa que eu quero, certeira...

Gostei de sua filha e caso sem receio,

se você permitir e se ela aceitar!...”

O velho concordou, com um vasto sorriso

e então desembainhou sua adaga o soldado

e os tijolos se pôs a soltar, com cuidado,

até aparecer um baú sob o piso...

Aberto o baú, estava cheio de ouro,

de mistura com joias... Então Brian falou:

“Se eu quisesse, com tudo ficar poderia!

Mas vamos agora repartir o tesouro!...

E pleno segredo a parelha jurou,

mediante a promessa de que se casaria...

Falaram com a moça e ela logo aceitou,

já antes pusera seu olhar no soldado,

rapaz alto, bonito e tão bem educado...

E em seguida o casório assim se realizou!

Pois Brian comprou uma granja ali perto

e dez filhos aos poucos teve o jovem casal,

sem que os pobres diabos jamais retornassem...

Também o estalajadeiro se portou com acerto

e enquanto viveram, nada sofreram de mal,

embora, à socapa, do mistério falassem...

Mas hóspede algum voltou a ser maltratado,

vivendo a família na graça de Deus,

a igreja auxiliando, em puro amor dos céus,

toda a gente da vila tendo assim prosperado!

EPÍLOGO

E quanto à velhinha? Não mais se ouvir falar

e Brian nunca soube quem era, com certeza.

Que era Nossa Senhora pensou mencionar:

não dá a graça de Deus, com a maior singeleza,

qualquer feiticeira, uma santa, ou até fada...

Aumentada a capela, a Madona entronizada

usava manto negro e a cobria um negro véu,

os aldeões protegendo na marcha para o céu.