NASREDDIN E A NOIVA 17/18'

NASREDDIN E A NOIVA XVII – 1º AGO 2022

“O resultado é que morrem animais,

com pouco tempo não os posso proteger,

ficam caídos pelos pastiçais,

suas pobres carcaças ali a apodrecer...”

“Ah, que lástima, novamente outro prejuízo!”

“Não, como em tudo, há mal que traz o bem,

fica o campo adubado e ali vou semear também

trigo e aveia, com o maior juízo!...”

“O senhor aproveita tudo com cuidado!”

“Sem dúvida, mas também me traz azar...”

“Como assim, sendo tão bem aquinhoado!”

“Mas nasce joio, misturado par a par

e na hora de colher, fica difícil,

brotam as flores para me distrair,

chegam abelhas com seu vasto zumbir,

preciso até me proteger com rede físsil!...”

“Ora, que pena, sempre há um lado mau!”

“Mas na verdade, dão-me lucro imenso,

fazem colmeias em qualquer ramo de pau,

de mel e cera há um resultado intenso!

Posso vender com grande qualidade...”

“Mas o senhor de tudo se aproveita!”

“Ah, mas nem sempre a coisa assim se ajeita,

pois o calor do sol derrete a cera em quantidade!”

“E onde se derrama, as minhas cabrinhas

já não encontram uma só folha de capim,

lambem a cera até ficarem bem tontinhas,

bem mais difícil de as controlar assim,

ainda mais que é um rebanho de bom porte!

Já as ovelhas, só comem coisa verde

e assim boa parte dessa cera se perde,

para fabricar velas tenho pouca sorte!...”

“Mas por que não contrata um auxiliar?”

“É que correm uns boatos na região

e ninguém dela quer se aproximar,

tem medo de um ogro de má reputação!”

“Ah, eu também dele já ouvi falar!

É uma desgraça ter esse vizinho!”

“Para mim é até bom que o tenha no caminho,

ninguém pretende as minhas terras me tomar!”

NASREDDIN E A NOIVA XVIII – 2 AGO 2022

“Mas esse ogro realmente existe?”

“Claro que não, porque eu mesmo o matei!”

“Até nessa proeza o senhor insiste?”

“Natural, boas moedas de ouro ali encontrei

e foi com elas que iniciei o meu rebanho...”

“Mas isso é bom! O ogro então morreu?”

“Por sorte minha, ninguém mais percebeu,

todos conservam dele horror tamanho!...”

“O único problema é trabalhar sozinho,

muito difícil de tudo isso dar conta,

mas vou fazendo tudo, bem devagarinho,

só há um prejúízo que não é de pouca monta,

naquele lugar em que o ogro apodreceu,

vieram moscas a fazer grande viveiro

e agora se espalham por todo o meu terreiro,

querendo o mel que das colmeias escorreu...”

“Mas que coisa, sempre o mal persegue o bem...”

“Mas para mim, a sorte grande constituiu!”

Nasreddin começava a se cansar também

e desta forma, sua tratantada concluiu:

“Eu pego as moscas, esvazio a sua barriga

e guardo mel lá dentro com cuidado;

quando acaba o que precisa ser guardado,

com suas asas outro lucro até consigo!”

“Olhe minhas botas, meu caro senhor:

eu as fabriquei só com asas de moscas...

É um trabalho tremendo de labor,

mas como vê, não me ficaram toscas!...”

Zalinski se curvou para as observar:

“Não é verdade, isso é só couro de ovelha...”

“Claro que é, uma mentira bem parelha,

mas em quantas outras fiz o senhor acreditar?”

Vladek soltou uma larga gargalhada!

De atrás da porta, em que Zalina se achava,

escutaram os três uma alegre casquinada,

pois nas potocas até ela mesma acreditava!

“Quer dizer que o tempo todo me enganou?

Mas como pôde me pregar tanta mentira?”

“Era a sua condição que todo o povo mira:

minha inteligência assim se demonstrou...?