NASREDDIN E O OGRO 5/6

NASREDDIN E O OGRO V – 11 JUL 2022

Então encheu bem de água o seu cantil

e colocou o queijo em seu bornal;

saiu andando de forma natural

e chegou até o bosque da montanha,

nem um rastro de machado ali se apanha,

embora procurasse em cantos mil!

Bem, se é que conheço aqueles dois,

devem ter ido até o lugar mais perto;

aquele bosque do regato é bem deserto,

todos têm medo de com o ogro deparar,

mas não creio o conselho fossem aceitar...

E decidiu-se para lá seguir depois...

Foi dito e feito: assim que chegou perto,

já encontrou um machado abandonado

e um pouco mais adiante o outro machado;

mas no momento em que pegou a ferramenta,

o ogro temível diante dele se apresenta:

“Seu atrevido, o teu destino é certo!”

“Mas e por que pretende me matar?

Não está vendo que não cortei ainda nada?

Nunca pode uma sentença ser passada

por um crime que alguém não cometeu!”

Ficou o ogro confuso e enfim lhe respondeu:

“Mesmo assim, eu quero é te devorar...”

“Vou lhe avisando, eu sofri de uma doença

que me deixou a carne amarga e dura;

dor-de-barriga vai ter que não se cura!...”

“Eu tenho tripa forte,” – o ogro respondeu.

“Quem antes tentou me matar, se arrependeu!”

Disse Nasreddin, a enfrentar a sua descrença.

NASREDDIN E O OGRO VI – 12 JUL 2022

“Mas por que acha que vou-me arrepender?”

“Porque eu sou forte e esmagar pedra consigo!”

E para engazopar seu inimigo,

tirou o queijo que trazia no bornal,

fingiu pegar do chão e, no final,

foi apertando entre as mãos até se desfazer!

“Se desde agora em paz não me deixares,

como esta pedra eu te irei esmagar!”

Não era o ogro de bom raciocinar

e ao ver no rosto de Nasreddin fera expressão,

depressa se ajoelhou, suplicando compaixão!

Nazreddin se deu então maiores ares!...

“Está certo, hoje eu não te matarei,

porém vais me ajudar a juntar lenha,

somente de árvores que galhos secos tenha

e grande pilha fazer vais me ajudar,

o suficiente para que eu possa carregar!...”

“Sim, meu senhor, eu vos ajudarei!”

“Que o senhor é forte bastante, eu compreendi,

bem diferente daqueles dois que devorei

na outra semana, que bem fácil dominei.

Nem se atreveram a me atacar com seus machados,

sem fazer força logo os dois foram sufocados...

Por vários dias apenas a sua carne eu comi...

Nasreddin sentiu correr forte arrepio:

Bem que algum desastre suspeitara,

não haviam fugido, o ogro os devorara!

Porém nada deixou transparecer

E fez o ogro bastante lenha recolher,

Para a dívida amortizar com certo brio!