AS TRÊS MANTILHAS 21/22
AS TRÊS MANTILHAS XXI – 19 outubro 2022
Um pouco adiante, deparou com outra aldeia,
toda a gente estava magra, em queixumes de tristeza;
novamente lhes indagou qual seria a razão:
“Às vezes o fogo nossa colheita incendeia
ou uma tempestade destrói tudo com presteza,
nos deixa com fome e com muita privação”.
mas embora lhe pedissem que os auxiliasse,
não conseguiu que o cavalo ali parasse.
Mais à frente, passou por dois carneiros,
um de pelo negro e o outro branco,
a se atacarem com fortes marradas,
mas os passos do cavalo eram ligeiros,
passou de largo por seu sonoro tranco,
sem se dispor a fazer quaisquer paradas,
até o conduzir a um virente prado,
onde parou, para que o capim fosse cortado.
Assim que retornou, a mangedoura enchera
onde o cavalo foi-se alimentar placidamente,
por mais que já tivesse no vergel pastado;
o re se satisfez que de fato o obedecera,
mas o interrogou com ar ainda impaciente:
“Durante o caminho algo o deixou impressionado?”
“Sim, Majestade, vi uma ponte bem prateada,
infelizmente de dois balaústres mutilada...”
“Foram os fantasmas de teus dois irmãos.”
“Majestade, meus dois irmãos morreram?”
“Nada disso, já te disse, eram fantasmas,
fantasias de minha mente, puras ilusões,
como as coisas todas que por aqui te aconteceram.
Mas por que razão finalmente agora pasmas?”
“Por que o senhor deixou que a mutilassem
e escondidos em suas roupas os levassem?”
“Porque são frutos de minha imaginação,
tanto as figuras humanas como a ponte,
não poderiam levar os balaústres consigo,
que tudo isso só existe aqui por ilusão,
eu os criei para provar a quanto monte
a tua pureza de intenções comigo;
e realmente, atravessaste bem a prova,
mas tens ainda de passar por outra nova...”
AS TRÊS MANTILHAS XXII – 20 outubro 2022
“Quanto a essa ponte que achaste tão bonita,
sem grande esforço eu a reconstruirei,
talvez a faça de ouro e não de prata,
mármore, alabastro, qualquer pedra bendita...
Mas pergunta o que queres e te responderei...”
“Aquela aldeia em que a alegria se desata?”
“São pessoas boas, temem os velhos deuses
E dão esmolas aos mendigos muitas vezes.”
“E os dois cachorros que não paravam de brigar?”
“São teus irmãos, disputando pela herança,
da qual por certo pretendiam te excluir!”
”E a outra aldeia, todos ali a se queixar?”
“É gente injusta, que não conhece a esperança,
a graça recusam e ao amor querem fugir...”
“E os dois carneiros, a se darem chifradas?”
”São as suas noivas a discutirem exaltadas.”
“Os teus irmãos as escolheram muito mal
e os dois farão infelizes casamentos;
um só à noite a sua poderá abraçar
e a outra só de dia irá encontrar, afinal;
para teus pais causa serão de sofrimentos,
destino bem melhor sei que vais alcançar...”
“E aquele prado belíssimo que só queria contemplar?”
“É o Paraíso, lugar muito difícil de alcançar.”
“Irás agora te acordar no mesmo leito,
liberto das teias de minha imaginação,
mas primeiro me devolve esse amuleto!”
“Swiatoswid é sólido e não te está sujeito.”
“Verás que posso prendê-lo em minha mão.”
“Não, Majestade, para mim é dom dileto,
foi sua filha que dias atrás me deu
e até o presente sempre me protegeu!”
O rei fantasma encarou-o sobriamente:
“Mais uma vez me provaste o teu valor;
Parte agora e a pede em casamento,
és mais digno que qualquer outro pretendente!”
“Majestade, podeis dizer-me, por favor,
o que foi feito pelo encantamento
com todos os que a foram procurar?”
“Gente ambiciosa, só me queria despojar!”