AS TRÊS MANTILHAS 19/20
AS TRÊS MANTILHAS XIX – 17 outubro 2022
Quando Milovan seus olhos abriu,
parado estava diante de tétrica mansão
e pelas costas lhe correu um arrepio.
Seu irmão Khristos de súbito ele viu,
enquanto o rei lhe dava firme orientação,
a declarar-lhe com fervor e maior brio:
“O teu irmão não roubou o meu cavalo,
foi minha filha que lho deu como regalo!
“Mas como estás com o coração cheio de inveja,
vou um bom cavalo de raça te emprestar,
para que sigas as minhas ordens com cuidado
e no final, o palafrém talvez até teu seja;
mas primeiro um bom capim com ele irás cortar,
mas só no ponto que ele tiver determinado.”
Khristos (ou seu fantasma) prontamente concordou
e sem ter medo, no grande animal montou!
Mas no caminho deparou com uma ponte,
de prata pura inteiramente construída;
com sua faca, um balaústre ele afrouxou,
numa ambição que no peito lhe desponte;
dentro da roupa deixou a peça escondida
e ali mesmo bastante capim cortou,
mas que o cavalo não se importou em comer,
e nos alforges colocou para à mansão trazer.
Levou o cavalo ao estábulo e jogou o capim,
em frente dele, no interior da mangedoura
e para a mansão dirigiu-se calmamente.
Surgiu o rei a interrogá-lo e outrossim
foi verificar se a instrução seguida fôra,
mas o cavalo recusara o capim inteiramente.
“Se meu cavalo não comer, você tampouco come!
Vá-se daqui, antes que com o relho o dome!...”
Milovan, ainda quieto, viu a seguir aparecer
a figura de Lukasz, o seu segundo irmão,
que as mesmas ordens recebeu do rei;
mas sendo toda de prata a ponte ao perceber,
tampouco ele resistiu à tentação:
Um balaústre em meu bolso guardarei!
E ali mesmo, colheu grande quantidade
de capim, sem preocupar-se com a verdade!...
AS TRÊS MANTILHAS XX – 18 outubro 2022
Mas no momento em que chegou à mansão,
foi pelo rei firmemente interrogado:
que o obedecera, mentiu solertemente,
mas o rei viu o capim solto no chão,
que o cavalo havia totalmente rejeitado
e mandou embora o segundo insolente.
Lukasz partiu, ainda que mal-humorado:
Mas tenho ao menos o balaústre bem guardado!
Quando o fantasma do outro irmão desapareceu,
para Milovan o do rei voltou-se, ainda zangado:
“Entendes bem tudo o que aqui se passou?”
“Sim, Majestade, nenhum dos dois obedeceu,
mas as instruções me repita com cuidado,
e deste modo, executarei o que mandou.”
“Faça-o bem, porque você é bem real
e seu castigo será então monumental!...”
“Veja bem, firmemente o cavalo o guiará
e nem pense em afastá-lo do caminho,
apenas corte o capim que ele escolher!”
Milovan montou e seguiu ao deus-dará,
deixou trotear o cavalo pela senda bem sozinho,
por mais longe quisesse a estrada percorrer,
mas de fato chegou em breve àquela ponte,
cujo brilho de prata em esplendor reponte!
Achou a estrutura linda, porém lamentou
que dois dos balaústres estivessem faltando,
mas o cavalo logo foi troteando em frente
e uma linda aldeia logo a seguir achou,
todo o povo dançando ali e cantando.
“Por que tanta alegria, minha boa gente?”
“Todos os anos temos colheitas abundantes,
não há doenças, temos dias interessantes!”
Mas embora o chamassem para participar,
já o cavalo insistia em ir à frente
e Milovan deu-lhe rédeas sem nada discutir;
logo a seguir, viu dois cães meio a sangrar
pelas mordidas que se davam mutuamente,
mas não julgou ser conveniente interferir
e o cavalo em firme passo continuou,
ainda mais longo o caminho em que o levou!