AS TRÊS MANTILHAS 17/18
LAMENTO DEMORA. REPOUSO POR ORDENS MÉDICAS
AS TRÊS MANTILHAS XVII – 15 outubro 2022
E assim a pôs na garupa do jumento
e o cavalgaram pela longa estrada.
Seus pais acharam sua beleza deslumbrante:
“Esta é Martchinka e me partilha o sentimento,
por mim sabe que será sempre idolatrada,
será comigo carinhosa e esposa amante...”
“Mas eu só posso conviver durante o dia,
para meu pouso seguirei na noite fria!...”
Por belas que as duas noivas parecessem,
os pais ficaram um tanto perturbados:
nenhuma delas netos lhes daria,
que pudessem mimar quando crescessem;
e como seriam dois matrimônios realizados,
se as duas reunir sequer se poderia?
Uma somente durante o dia passará
enquanto a outra só de noite ficará!
Mas como Milovan custava a retornar,
os irmãos diziam que roubar não poderia
alguma noiva, igual às coisas que furtara,
alegando que alguém a fôra presentear!
E ao mesmo tempo, que já se realizaria
o casamento que o crepúsculo já chegara:
enquanto uma noiva tinha pressa de voltar
e a outra mesmo só acabara de chegar!
Mas Milovan ao castelo retornara,
para a Ludmilla explicar a nova exigência;
a princesa, sorridente, o escutou,
se lhe pedisse, prontamente o abraçara,
mas a escutá-lo na maior paciência
e Milovan fazer a proposta nem ousou!
Contudo, permanecia ainda o encantamento,
embora bem mais fraco no momento!...
E nessa noite, Ludmilla o fez dormir num aposento
todo forrado de verde, “Mas não tenha medo,
será a prova derradeira, és bem valente
e saberás te portar a bom contento!
Ao novo espírito não lhe contes o segredo
desse amuleto e de quanto ele é potente.
Ele também tentará te arrebatar,
mas em tua vida não poderá tocar!...”
AS TRÊS MANTILHAS XVIII – 16 outubro 2022
De fato, quando bateu a meia-noite,
surgiu o fantasma, com acusação pungente:”
“Desgraçado, vieste aqui roubar o meu castelo!”
“O senhor é o rei?” – indagou, sem grande afoite.
“Sim, sou Aleksander Quarto, o rei potente,
mas vou matar-te e assim não poderás tê-lo!
A meus soldados e cortesãos lograste,
mas meu poder nada haverá que afaste!”
“Majestade, tendes todo o meu respeito,
aqui cheguei só a buscar uma mantilha
e da segunda vez, só uma corrente,
mas a princesa é muito bela e estou sujeito
a confessar que sinto amor pela sua filha;
porém com o castelo não me importo, realmente.”
“Insensato! Como finges não saber?
Se a desposares, tudo irá te pertencer!”
“Se for assim, ficarei muito agradecido,
mas sequer ouvira falar de seu castelo
e muito menos do reino que governa;
a duas provas já fui submetido
e as duas enfrentei no maior zelo,
logo sua maldição deixará de ser eterna!”
“Talvez, mas a terceira prova é a mais forte
e não conseguirás vencê-la só por sorte!”
“Não sei por que não consigo te matar!”
“Perdoe, Majestade, mas um fantasma
não consegue, realmente, me atingir!”
“Contudo, ainda poderei te arrebatar,
entendes bem? Mas o medo não te pasma?
Todos os outros pretendentes consegui ferir,
mas ao me verem, uivavam de terror!”
“Não o farei, eu só o respeito, meu senhor!”
O rei soltou uma forte imprecação
e sem tocar no jovem, realmente,
fez que flutuasse para a noite escura.
“Se conseguires suportar a provação,
serás digno de minha filha, finalmente
e a mim mesmo libertarás da praga impura;
mas feche os olhos firmemente agora,
porque tudo será mudado nesta hora!”