AS TRÊS MANTILHAS 13/14
AS TRÊS MANTILHAS XIII – 11 outubro 2022
“Não estou mentindo. Não quero o seu castelo,
só vim aqui para conseguir uma corrente.”
“Não obstante, conosco irá partir
e o levaremos, coisa alguma a protegê-lo!
Nem a imagem tricéfala de seu pescoço rente!”
Milovan teve a impressão de estar ainda a dormir,
mas de repente se encontrou em um prado,
frente à frente a um carneiro de pelo bem dourado!
“Também tu vieste me assaltar?
Queres roubar o meu velo de ouro!
Matei teu pai e te matarei também!”
Sem com a fala do carneiro se assombrar,
Milovan segurou firme o seu tesouro,
o amuleto em que tanta confiança tem:
“Estás enganado, meu pai está bem vivo
e em seu trabalho é forte e bem ativo!”
“Você é filho do rei de Bielograd!
Ele veio me roubar e eu o matei!...”
“Não, meu pai é Vsevolod, um camponês,
nenhum de nós te fez qualquer maldade,
no seu castelo apenas me abriguei;
o grão-vizir do rei é que me fez
aparecer aqui no meio da campina
e sequer temo essa tua fúria assassina!”
“Mas que fazia você nesse castelo?”
“Só vim pedir um favor para a princesa,
que me desse de presente uma corrente.”
O carneiro o contemplou com grande zelo:
“Você responde com real presteza,
por que então se encontra na minha frente?”
“Eu já lhe disse que apenas me trouxeram
E nenhuma explicação então me deram!”
“Salvo que sobre o castelo há maldição...”
“É bem verdade: eu mesmo é que a lancei.
Você não é da princesa um pretendente?”
“De forma alguma, ainda que os olhos dela são
de tal beleza que por ela me encantei,
mas sou apenas um camponês pobre e inocente
de qualquer pretensão por conquistá-la...”
“Mas o temor de mim não o avassala...”
AS TRÊS MANTILHAS XIV – 12 outubro 2022
“E no seu caso, a maldição suspenderei,
visto que vejo que de fato és inocente...”
E com um balido, no ar o levantou;
Milovan viu-se libertado de sua grei
e pelos ares viajou rapidamente,
até que de novo sobre o leito se encontrou.
Que coisa estranha conhecer esse carneiro!
Mas os olhos fechou e adormeceu ligeiro.
No outro dia, quando alguém a porta abriu,
notou que ainda estava perfeitamente adormecido
e o mordomo retirou-se, satisfeito
com a boa notícia que à sua ama transmitiu.
Foi o rapaz novamente conduzido
até o salão, em que encontrou já feito
seu desjejum, que tomou com a princesa,
que mais ainda o tratou com gentileza.
“Já duas vezes a maldição enfrentaste
e te agradeço muito profusamente;
toma este cofre que contém o que pediste
e uma espada e escudo ainda ganhaste,
monta a cavalo e vai para a tua gente.”
“Irei, princesa, mas confesso que estou triste,
de sua presença sinto já saudade,
mais que a beleza, me seduz tanta bondade!”
De sua palavra nem um instante duvidou
e quando finalmente à casa retornou,
os dois irmãos zombaram dele alegremente:
“Vejam só como o atrasado enfim veio chegar!
E os seus grossos grilhões onde carregou?
Trouxe um escudo e espada, mas e a corrente?”
“Está aqui”, respondeu confiadamente.
“Senhor meu pai, aqui está o meu presente!”
Com desconfiança, Vsevolod o cofre abriu
e realmente, havia uma corrente ali enrolada,
não de ferro e nem de bronze, mas de ouro.
E em direção à casa a conduziu,
sete voltas completando ao ser ali experimentada,
os dois irmãos invejosos em desdouro.
“Certamente, é você o vencedor,
a disputa se decidiu em seu favor!