A TERRA DA JUVENTUDE III/IV

A TERRA DA JUVENTUDE III

“É que o povo de lá nunca envelhece,

nem morre nunca, porque existe fonte

de que brota eternamente clara água

que de qualquer doença cura a mágoa.

Majestade, escuto a troça dos doutores,

mas se aqui me apresentei, foi por amor

e não em busca de qualquer favor;

caminhei meses desde a aldeia, senhores,

muitas verstas percorri fazendo prece (*)

a nosso Deus. Cruzei planura e ponte,

sempre a pé, sem um animal que monte...”

(*) Medida russa equivalente a 1.067 metros.

“Está certo, bom staryk”, disse o rei, (*)

“mas onde fica essa região maravilhosa?”

“Ah, meu generoso e querido monarca,

isso nunca nos informou o patriarca!

Só sei que fica nas bandas lá do Oriente,

mas vós podeis mandar os emissários

para cruzar por cem caminhos vários

ou nos livros que escreveu a douta gente

ir encontrar esse destino que eu não sei.

Mas se beberdes dessa água portentosa

vossa saúde retornará logo viçosa!...”

(*) Velho, em russo, um termo de respeito.

O bom Tzar despediu o camponês

e ainda mandou que lhe dessem um cavalo

e alguns copeques para sua viagem, (*)

determinando então que uma mensagem

por todas as terras da Rússia transmitissem,

a indagar onde se achava a tal região,

de cuja água mágica adquirira a convicção

e que o caminho para ela descobrissem.

Sem resultados, convocou juntos os três

seus filhos, para que viessem ajudá-lo

e a água buscassem, para assim salvá-lo!

(*) Moeda de cobre, divisória do rublo.

O fato é que ninguém mais acreditava

que existissem essa fonte ou tal país,

mas o príncipe Mikhail, que era o mais velho,

prontificou-se a partir, com todo o zelo,

para encontrar a tal água milagrosa;

pediu ao pai que lhe desse um ano e um dia

e muito ouro, que na busca gastaria,

mas nutrindo a esperança vergonhosa

da morte de seu pai enquanto andava

a divertir-se pelo reino, o quanto quis,

como a um príncipe de sangue lhe condiz...

A TERRA DA JUVENTUDE IV

Como a tal terra ficaria para o Oriente,

foi cavalgando para essa direção,

tomando a “rota da seda” como banda,

até chegar à antiquíssima Samarkanda,

em que se hospedou alegremente,

gastando à larga o seu saco de ouro

até que, esgotado seu tesouro,

foi levado à prisão como indigente,

até pagar as dívidas que, indolente,

fizera sem a menor preocupação,

comendo restos e a sofrer humilhação.

Quis escrever ao Tzar na carceragem,

mas não quiseram acreditar no que falou,

já que estava emagrecido e esfarrapado,

perdido ao jogo o quanto havia apostado,

suas roupas, sua espada e seu cavalo...

Passou-se, afinal, um ano e um dia;

como do filho nenhuma notícia ouvia,

mandou o Tzar o outro filho procurá-lo:

o tzarevitch Piotr, de grande coragem. (*)

Uma escolta tampouco ele aceitou;

que em ano e dia voltaria ele afirmou.

(*) Filho do Tzar, título dos herdeiros do trono.

E lá se foi Piotr pela estrada,

sem intenção da tal água procurar,

pois nem acreditava que existisse,

sem que qualquer resposta conseguisse,

pelas cidades e aldeias que encontrava,

também nutrindo a esperança nefanda

da morte do Tzar, até chegar a Samarkanda,

gastando à larga o dinheiro que levava...

Mikhail, ao saber de sua chegada,

mandou chamá-lo, mas nem o foi visitar;

por que as dívidas do irmão iria pagar?

Eventualmente, sofreu a mesma sorte:

perdeu no jogo seus últimos centavos,

a sua espada, as ricas vestes e o cavalo

e para a mesma prisão foram levá-lo;

só então reconheceu o seu irmão,

mas era tarde, sem poder nada pagar

e muito menos à tal fonte demandar.

Foram ameaçados com a escravidão

ou até mesmo com pena de morte,

que aceitariam, talvez, como dois bravos,

de preferência a se tornar escravos!