A PRINCESA DO MAR 16/18 FINAL
A PRINCESA DO MAR XV
Então a sala dissolveu-se, a espumejar.
Prendeu-se Sadko nos braços da princesa.
Sobre uma concha viajaram, abraçados,
foram às margens do Ilmen transportados.
Dormiu Sadko, embriagado de beleza,
Volkhova um acalanto a murmurar...
Mas a princesa não adormeceu,
pois lentos passos sobre a areia ouviu.
Era Lyubova, chamando seu marido,
que para sempre receava ter perdido.
O coração de Volkhova se partiu
e em seu amor traído, ela gemeu...
Sendo uma fada, logo percebera
a profundeza do amor de Lyubova.
Já não podia ao oceano retornar...
Contudo, Sadko não iria disputar!...
Porém do amor que tinha, última prova,
resolveu dar ao homem que escolhera.
E nadando para a margem mais ao norte,
desfez-se em água, então, completamente.
Abriu um canal até o lago Ladoga
e nele as lágrimas, uma a uma, afoga...
No rio Volkhov transformou-se inteiramente,
a seu amor dedicando a inteira sorte...
A PRINCESA DO MAR XVI
Assim o Ilmen até hoje está ligado,
pelo Volkhov, até o lago Ladoga,
que pelo rio Neva corre até o mar.
Foi assim que Volkhova quis provar
seu grande amor, que no Báltico se afoga.
E por seu rio todo o comércio é transportado.
Lyubova outra vez achou o marido,
na mesma praia, ao lado do instrumento.
Ele acordou, com profundo olhar tristonho
e disse à esposa que tivera um lindo sonho,
imerso num profundo encantamento,
que corpo e mente lhe haviam seduzido...
"Passei a noite inteira nesse sonho!...
Só resta agora compor nova canção..."
Mas Lyubova lhe afirmou que ele partira
três anos antes e só agora surgira...
"Seus três navios no cais do porto estão..."
Ergueu-se Sadko, então, com ar risonho,
de braços dados com Lyubova caminhou,
ao longo da arenosa e mansa praia,
até o porto rumoroso da cidade,
Lyubova a derramar felicidade,
enquanto o vento lhe agitava a saia,
pois seu amor, enfim, recuperou!...
A PRINCESA DO MAR XVII
Ao chegarem ao porto, toda a gente
comentava a chegada dos navios,
pois afirmavam ter chegado de alto-mar
os capitães e a tripulação a confirmar,
passando por um lago e por dois rios,
um dos quais não existia, certamente...
Foi Sadko pelos marinheiros aplaudido
e lhe contaram então os oficiais
que bem depressa se dissipara o nevoeiro
e ao rio Neva tinham chegado bem ligeiro;
e após o Ladoga, abriram-se canais,
em direção ao sul, que haviam seguido.
Foram ao norte do lago os mercadores:
maravilhados as notícias confirmaram!...
"Seu nome é Volkhov," Sadko afirmou.
Ninguém tal nome contestar ousou.
Pagou-lhes Sadko a soma inteira que emprestaram,
com juros muito acima dos pendores.
E após outras expedições ter dirigido,
tornou-se o homem mais rico da cidade.
Mas no fundo da mente ele sabia
qual a origem do rio que assim surgia...
Tinha Lyubova, que o amava de verdade,
mas um amor muito maior havia perdido!...
EPÍLOGO
Porém Nazhata retirou-se, envergonhado
e nunca mais a Novgorod retornou...
Dizem alguns que foi cantar para o Sultão;
outros afirmam, talvez com mais razão,
que para a terra da Finlândia se mudou
e que lá, a tocar gusli havia ensinado...
Viveu Sadko feliz por muitos anos
e cem barcos a fortuna lhe traziam.
No rio Volkhov, às vezes. se banhava
e o grande amor de Volkhova recordava...
Mas nunca mais viu seus olhos que luziam,
com muito mais amor que o dos humanos...