NERECZINKA 11/12
Nereczinka 11 – 19 fev 2022
Ora, o caldeirão possuía um encantamento
e quando Nereczinka, em seu fatal momento
enfiou as mãos na água quase em ebulição,
sentira subir-lhe pelos braços a magia,
que no instante como dor só percebia,
as maçãs a recobrar com devoção!
Logo depois, quando rápido corria
para o castelo e as maçãs trazia,
nem teve tempo de olhar a queimadura,
mas quando a pôde ver com mais vagar,
viu com surpresa que já estava a se curar
e ainda mantinha permanente a nova altura!
Então sentia-se ao fogo invulnerável,
puxou a espada com fúria incansável:
junto com ele crescera sua espadinha
e enfrentou a fera com coragem,
as suas chamas a soltar numa voragem:
só teve medo que se queimasse a princesinha!
Mas Nereczinka sabia bem lutar,
indo, uma a uma, dos pescoços decepar
as nove ferozes cabeças do dragão,
até que o fogo inteiro se extinguiu,
quando a última cabeça aos pés caiu,
mas nem pensou em si mesmo, na ocasião!
Só quis saber como estava a sua princesa
e com a magia, completa em sua estranheza,
viu que as correntes se haviam derretido,
mas que Duylina não sofrera o menor dano!
Os dois se uniram num abraço soberano,
tão aliviados do temor antes sofrido!
Nereczinha pediu um lenço à sua princesa
e de cada cabeça, com a maior presteza,
foi cortando as nove línguas asquerosas
e as guardando no lenço perfumado...
Logo a seguir, por achar-se tão cansado,
adormeceu entre quimeras deliciosas...
A princesa se dispôs dele a cuidar,
mas tendo fome, foi algumas frutas apanhar
e enquanto isso, apareceu outro rapaz,
membro da alta nobreza do lugar,
que o espetáculo só viera contemplar,
sem que lutar com o dragão fosse capaz!
Mas vendo o monstro já morto sobre o solo,
abriu um alforje que trazia a tiracolo
sobre a sela do cavalo que montava
e uma a uma foi as cabeças apanhando,
dentro do alforje todas enfiando,
enquanto sua trapaça planejava!
Nereczinka 12 – 20 fev 20
Mas quando já a última cabeça recolhia,
viu Duylina, que para ali volvia
e os dois, com espanto, se encararam!
“Você está salva, princesa, matei o seu dragão!”
“De forma alguma, de meu herói foi essa ação!”
“Mas onde está ele?” Sem cuidado o procuraram.
“Princesa, venha montar no meu cavalo,
o seu “herói” já estar morto em algum valo!”
“Não, cavaleiro, ele só deve estar dormindo!...
“Mas onde está a sua montaria?
Decerto a pé é que ele a levaria,
mas é a cavalo que a irei conduzindo!...”
A princesa ainda estava atarantada
e se deixou ser na sela colocada...
O impostor prendeu o alforje na sela
e foi logo galopando bem depressa!...
“Vai dizer que eu a salvei, faça promessa!”
Uma adaga lhe encostou à garganta bela!...
“Se por acaso trair o meu segredo,
com o fio eu rasgarei seu rosto ledo
e nunca mais se animará a olhar ao espelho!
Vou afirmar que fui eu o matador,
que da cidade inteira fui eu o salvador!...”
Logo nas costas do cavalo tocou o relho!
A princesa, a temer por sua vaidade,
resolveu-se a calar até a cidade.
Quando estivesse segura com seu pai,
denunciaria de imediato ao impostor!
Mas até lá, movida de temor,
Nem um protesto de sua boca sai!...
Mas era esperto esse malvado cavaleiro
e assim asseverou-lhe, bem ligeiro:
“Eu já lhe disse que o seu herói morreu!
Em vasta bebedeira o encontrei:
sem nem pensar, sua garganta degolei!...
E agora? De me trair se arrependeu?”
Era claro ser tudo uma mentira:
a Nereczinka o traidor nem sequer vira
e acreditou mesmo que morrera no combate,
mas Duylina ficou na maior desolação
e desistiu de qualquer acusação,
sem esperança, seu ânimo se abate!
Naturalmente, todos creram na mentira:
junto do lago a gente logo vira
que realmente o monstro havia morrido
e que lhe haviam decepado suas cabeças!
Então o rei assentiu, sem grandes pressas,
que a mão da filha daria ao tal bandido!