Era Uma Vez Uma Ovelhinha Negra Em Versos
Era uma vez uma ovelhinha diferente
Das suas irmãs do mesmo redil
Não era doente nem deficiente
Mas sua lã era mais escura que o anil
Por isso, era desprezada e sofria
Todo tipo de maus tratos
Uma ovelha branca lhe mordia
Outra lhe dava vários sopapos
A Ovelha Negra era desprezada
Colocada sempre em último lugar
Quando estavam dividindo a salada
Não lhe deixavam capim para pastar
O rebanho inteiro a boicotava
E a ovelhinha diferente passava fome
Uma plantinha sequer não lhe restava
Por isso sempre lhe doía o abdome
A ovelhinha sofria todo tipo de desprezo
Mas certa vez anunciaram uma visita
Que rendeu ainda mais menosprezo
Àquela considerada a ovelha esquisita
Um príncipe viria para escolher
Entre o rebanho a sua futura princesa
A ovelhinha negra encheu-se de querer
Mas desanimou: “Não serei eu com certeza”
E outra vez a esperança brilhou no peito
“Mas quem sabe terei uma oportunidade
“Ele me pede em casamento e eu aceito
“Então meu sonho se tornará realidade”
Mas as outras lhe cortaram o pensamento
“Você não vai nos fazer passar vergonha
“É somente das brancas esse momento
“Não pode, você é uma ovelha medonha”
Colocaram-lhe na cozinha a preparar a comida
Sua tarefa seria lavar e enxugar toda louça
No salão de festa a ovelhinha não era querida
Para o grupo era considerada uma trouxa
O Ovelha Negra quis questionar tal ordem
Mas sua voz não era ouvida por ninguém
Também não queria criar desordem
Nem se indispor, em dia de festa, com alguém
Só lhe restou descascar e cozinhar batata
Mas enquanto se resignava triste na cozinha
Aconteceu uma coisa inesperada
Rompeu-se acima dela um saco de farinha
O trigo cobriu seu corpo por inteiro
E ovelha antes negra ficou branquinha
Uma das irmãs veio visitar o biscoiteiro
E confundiu a antes escura ovelhinha
Enquanto mastigava um biscoito
Falou para a ovelha então esbranquiçada
“O príncipe é lindo aparenta no máximo dezoito
“Mas vamos correr irmã, já estamos atrasadas”
A Ovelhinha Negra nada entendeu
Pensou até que enfim tinha uma aliada
Deixou a cozinha e a nova ordem obedeceu
Juntou-se às outras ficando emparelhada
Sorria muito nossa ovelhinha feliz
Competia com as outras agora par a par
Nem se deu conta que estava branca como giz
E o Príncipe as ovelhas se pôs a observar
Mas eis que começou a cair chuva
A água tirou o trigo da nossa concorrente
E ela voltou à cor original, linda como uma uva
As outras indignadas, bradaram: “Indecente!”
Algumas ovelhas riram da sua humilhação
Mas o Príncipe até então desanimado
Pois nenhuma despertara seu coração
Dirigiu à Ovelha Negra um olhar apaixonado
Não teve mais dúvida e decidiu sua votação
As outras se revoltaram: “O Príncipe de engana!
“Por que ela? Ela é feia e tem a cor de um tição”
O Príncipe respondeu: “Sua beleza é soberana!”
Continuou: “Ela será uma autêntica rainha”
E a ovelha discriminada foi a escolhida
Uma linda princesa agora é a nossa ovelhinha
Ela merece respeito e carinho para toda vida.
(Adaptação de texto AD)
Aberio Christe