A FADA ARANHA CAP V/VI
A FADA ARANHA V – Revisado 15 jan 22
“Elas garantem da dinastia a continuidade!...”
disse-lhe então, em tom tristonho, Belezzar.
“Só que agora elas se encontram em extinção!
A última fêmea você matou, sem ter razão!...
Compreende de seu crime a enormidade...?”
“Não, Majestade, de fato, nem pensei:
tive um impulso e com a vassoura a esmaguei...”
“Entendo bem, mas não a posso perdoar;
por negligência, irei aos outros castigar;
quanto a você, vou meu Conselho consultar...”
“E seu castigo só depois determinar.
Nunca antes foi tal crime cometido
e nem calculo qual será a sua tortura;
será levada à prisão de mais agrura:
pela manhã a mandarei buscar...”
“E minha filhinha? Quem vai dela tomar conta?”
“Essa é sua preocupação de menor monta...
Mas aproveite para rezar bastante
e se prepare para um ordálio delirante,
que o reino inteiro você deixou comprometido!”
De sua cela, ela escutou as chibatadas
nas costas do mordomo desferidas;
da ama da aranha a execução por negligência,
a suplicar de pavor e de impotência...
Muito mais que das torturas esperadas
ela chorava por sua filha Leodiceia;
somente as pedras das paredes sua plateia...
Somente em vão ao carcereiro suplicou
notícias da menina, quando este lhe entregou
seu pão e água e saiu sem despedidas...
No dia seguinte, levaram–na até o rei
e então Leora ajoelhou-se, tiritando...
Um fora espancado, a outra enforcada!
A que castigo seria ela condenada?
“Sei crime é grave e não a perdoarei,”
disse-lhe Belezzar, “mas não é crime de morte:
há três maneiras de expiar sua sorte:
primeiro, pode se casar com o macho velho!”
“Mas sou casada, senhor!...” “O meu Conselho
sua viuvez já está considerando...”
A FADA ARANHA VI – Revisado 16 jan 22
“Normalmente, sete anos lhe daria,
antes da morte de seu marido decretar;
contudo, diante destas circunstâncias,
poderemos pôr de lado estas instâncias
e então com o macho você se casaria...”
“Quer casar-me com uma aranha, meu senhor...?”
“Segundo a lenda, com mulher foi genitor
um outro macho... Foi assim que nos surgiram
as aranhas vermelhas... Vocês juntos gerariam
algumas fêmeas, para a espécie continuar!...”
Belezzar bateu palmas, firmemente:
“Tragam o noivo, para ela conhecê-lo!”
Então trouxeram de vidro uma redoma
em que enorme aranha negra ali assoma:
olhos vermelhos, preto o pelo inteiramente...
“Segundo dizem, muitas vezes no passado
mulher humana tais aranhas tem gerado...”
Ao ver o monstro, Leora desmaiou!...
Porém depois que alguém a reanimou,
nem sequer erguia o rosto para vê-lo!...
Riu Belezzar, com falsa benevolência:
“Segundo entendo, não deseja se casar...”
Leora pôde apenas gaguejar:
“O macho é negro! De nada iria adiantar...”
“Ah, nessa espécie só têm rubra aparência
as fêmeas... Nascem os machos de outra cor.
Ele está velho, mas é um bom reprodutor...
Mas tudo bem, existe outra alternativa...
Agora nos tragam a segunda cativa!...”
“Majestade, não pode apenas me matar?”
“Sem a menor dúvida, se você prefere a morte!...”
Chegou uma caixa de vidro retangular:
sobre lençóis de linho, lá estirada
a imóvel Leodiceia podia ser contemplada...
Leora gritou: “Ai, que terrível sorte!
Minha pobre filhinha!... Mas por que a mataram?”
“Não está morta... Só a narcotizaram,
mas de fato, deve ser morta na ocasião
e o punhal desferirá sua própria mão!
Seu jovem sangue irá ao macho alimentar...”