A FADA ARANHA CAP III/IV

A FADA ARANHA III – Revisado 13 jan 22

“Essa aranha provêm da antiga dinastia:

pintada no escudo do avô desse seu pai,

que foi derrotado pelo avô do atual rei,

que ocupa o trono contra nossa lei;

pela justiça, Leothar se assentaria...

Essa aranha lhe pertence, minha querida,

mas se souberem, será perseguida:

embora seja somente uma criança,

à pretensão de reinar tem esperança

e pela aranha grão respeito mostrar vai!...”

Ficou a menina muito surpreendida

e prometeu não contar nunca o segredo,

grave silêncio a guardar pelo caminho.

O mordomo encarou-a, com carinho:

“Essa é a filha do general perdido?

Decerto será muito corajosa...”

Porém ficou Leodiceia silenciosa;

em um quartinho as duas se alojaram;

como era tarde, logo se alimentaram,

Leodiceia dormindo sem ter medo...

No outro dia, Leora recebeu

um uniforme, balde e os utensílios

adequados às suas novas funções;

a menina a conquistar os corações

e Leora logo confiança mereceu,

encarregada de lavar os corredores

e a encerá-los com belos esplendores,

seu trabalho fielmente a executar,

sem por um único momento se queixar,

deixando os pisos em luzentes brilhos...

Contudo, já passada uma semana,

iniciando a trabalhar de madrugada,

viu uma aranha correndo para ela

e sem pensar, com a vassoura bateu nela:

matando o artrópode, escuro como lama!...

Seguiu varrendo, misturando-a ao lixo,

horrorizada com o tamanho de tal bicho!

Então surgiram dois criados, que indagavam

se ela vira o animal que procuravam...

“Eu a matei...” – disse Leora, descansada.

A FADA ARANHA IV – Revisado 14 jan 22

“Você a matou? Matou a aranha do rei?”

Os dois criados mal podiam acreditar!...

“Por que, fiz mal? – disse ela, surpreendida.

“Era a mascote do rei! Decerto com sua vida

irá pagar por quebrantar-lhe a lei!...”

Nesse momento, entrou pela janela

o primeiro raio de sol; e só então ela

viu ser vermelha a aranha que matara!...

Em vão protestou que ela a atacara:

foi amarrada para ante o rei se apresentar...

Belezzar só apareceu daí a uma hora,

deixando Leora a esperar, acorrentada,

só aos poucos compreendendo o que fizera,

ao ver a consternação que o ato gera...

Primeiro ao rei apresentaram uma senhora:

“Você deixou a minha aranha se escapar?”

“Sim, Majestade,” disse ela, a balbuciar.

“Foi a redoma que caiu e ela fugiu,

chamei os servos e a gente a perseguiu,

quando a achamos, já fora assassinada!...”

“A culpa é sua e por tal negligência

você será executada ao entardecer!...”

Levaram a mulher ainda a implorar...

Para Leora então voltou-se Belezzar,

seu rosto triste a demonstrar paciência.

“Minha filha, por que tal crime cometeu?”

“Pensei fosse daninha! Nunca me ocorreu

que ainda existisse essa aranha vermelha;

pensei que fosse tão só uma lenda velha...

Ela atacou e apenas quis me defender!...”

“Até compreendo que com ela se assustou,

mas tais aranhas são mansas e cuidadas

há gerações, como símbolos do reino;

entendo que apenas começou seu treino:

foi o mordomo que nada lhe explicou!...”

E ordenou que cinquenta chibatadas

ao entardecer, lhe fossem aplicadas.

“Mas o que farei com você, a assassina?”

“Majestade, apiade-se de minha sina:

Nunca pensei que aranhas fossem consagradas!”