O MENINO SEM CABEÇA CAP 3
O MENINO SEM CABEÇA III – 4 dez 21
Assim Rudolf despediu-se de seus pais
e dos irmãos, ainda um pouco constrangidos,
seus olhares envergonhados e perdidos,
sem saber como encarar momentos tais,
todos em parte a se sentir culpados,
mas em parte justamente o oposto,
que aquele estranho irmão tanto desgosto
lhes causara e assim sentiam-se aliviados!
Por via das dúvidas, o tio que era sacerdote
fez que levasse a certidão de batizado
e um comprovante de que fora até crismado
e que vivia pelo maravilhoso dote
de Nossa Senhora, sem que fosse feiticeiro;
que em qualquer lugar desconhecido
não fosse por sua falta perseguido
e assim Rudolf se despediu faceiro...
mas cabeça não é coisa que se ache
com facilidade. Quem a tem, precisa dela
e de algum morto, já recebendo vela,
caso em uma sepultura até se abaixe,
só encontraria os ossos da caveira
e Rudolf seria bem mais assustador
com crânio no pescoço, um grande horror
a quem o visse pela vez primeira!
Deste modo, viajava com capuz
e uma medalha ao pescoço pendurada,
a sua falta de cabeça disfarçada
e protegido pela Santa Cruz.
Então, passado seu assombro inicial,
as pessoas com ele conversavam
e uma cabeça para ele procuravam,
mas não servia de louça ou de metal!
Em uma aldeia, ofereceu-lhe o açougueiro
uma cabeça recém cortada de um carneiro,
porém o rapaz a recusou, com certa dor:
“Com esse pelo e os chifres é pior!”
Em outra aldeia, também lhe ofereceram
uma cabeça empalhada de macaco!
“Já não posso respirar, é como um saco!”
Foi-se embora e todos fácil compreenderam...
Finalmente, ao chegar numa fazenda,
uma cabeça de porco foi mostrada,
do pobre bicho fora recém cortada,
que talvez lhe servisse como prenda!...
E até que dava pelo focinho respirar
e pelos olhos do porco se enxergava,
mas não gostou da aparência que lhe dava
e foi assim obrigado a recusar!...