BRONCA DE NOVE E SÓ SEIS ANÕES
De segunda a sexta-feira,
sábado e domingo também,
Soneca dorme e ronca,
numa enorme espreguiçadeira,
que para nós é pequena.
Mas se lhe cabe, tudo bem!
. . . . .
Aí, à noite chega alguém
que lhe quer roubar a cena.
É dona Bronca,
que fala rouco como quem ronca.
. . . . .
Ela é baixinha e gordinha.
E eu nem tinha reparado:
tem um orelhão de um lado
e do outro só uma orelhinha;
cabelo despenteado,
muitos dentes careados,
ninguém sabe quantos tinha.
Fora os defeitos nela notados,
todo o resto estava errado.
. . . . .
Com jeito de muito esperta,
entrou quieta pela cozinha,
cuja porta estava aberta.
. . . . .
Como sempre acontecera,
vejam só como ela vinha:
zangada, interesseira,
bronqueira e muito arengueira.
. . . . .
Cada um só dava mesmo o que tinha.
. . . . .
- "Cadê os anões q´eu deixei aqui !!!...
Acorda, Soneca,
seu dorminhoco,
isso é lá hora de dormir!?...
- Cadê os anões q´eu deixei aqui !!!"...
. . . . .
Aí,
batendo em cachorro morto,
desperta Soneca com um soco.
. . . . .
- "Dormiu a semana inteira,
estirado na espreguiçadeira
e inda está achando pouco!..
Já viu que você ronca
do mesmo jeito que um porco!?"...
- Esbravejou dona Bronca -.
- "Ah! Ah!...
Porco me tira a concentração.
É porco grande ou porco anão,
Será daquele que grunhe
do jeito que a senhora fala?"
- Pergunta Soneca, ao acordar,
meio dengoso e tapando o nariz,
que vazava como um chafariz.
Todavia,
espirrar demais ele já não podia.
. . . . .
- "Ah, sim,
Os anões ! ! ! ??? " . . .
- E espirra, imitando o Atchim -
. . . . .
- "Estão por aí espalhados,
fugindo de aglomerações.
. . . .
Sabe que eu também fugi?!...
. . . . .
Só que, quando cheguei aqui,
deitei-me na espreguiçadeira
e num instante adormeci.
Ainda me lembro que vi:
o Dunga, Zangado
e o Mestre, Feliz".
. . . . .
- "Chega!...
Você está de brincadeira!
Levante da espreguiçadeira
e me fale de pé, como homem!"
Onde está o Atchim?...
. . . . .
Esse anãozinho sempre foi assim:
pra fazer algo pra mim,
se não o agarro, ele some".
. . . . .
- "O Atchim, dona Bronca,
Acho que tá dentro de mim.
É que dou mais de cem espirros
quando à noite a senhora ronca".
. . . . .
"Então, vamos logo
resolver essa questão.
Nada de brincadeira,
nem mesmo adivinhação".
- Disse dona Bronca,
já trazendo em suas mãos
uma porção de rato empanado,
que ela tinha encomendado
a uma amiga feiticeira.
. . . . .
E fez Soneca cheirar
só pra parar de espirrar.
. . . . .
Soneca cheirava o feitiço.
Soneca dormia por vício.
Soneca roncava por vocação
e ainda espirrava como o outro anão.
. . . . .
Soneca sonhava!...
. . . .
Sonhou que
quanto mais cheirava,
mais o seu corpo se alongava.
Do mesmo jeito, a dona Bronca crescia,
porque a porção também lhe apetecia.
. . . . .
Aí,
Soneca viu que ela estava criando asas!...
Puxou-a pra fora da casa,
arrastando-a até o terreiro.
. . . . .
"Ali, sim, é que é lugar de feiticeiro!"
- Exclamou como um anão feliz -
Mas a seguir, num embalo,
saíu lá do galinheiro,
quando dona Bronca quis
obrigá-lo a ser seu galo.
. . . . .
Muito tempo se passou,
até que Soneca num belo dia acordou.
. . . . .
Parece que nunca mais sonhou,
mas sentia-se feliz sozinho:
É que pensou que dona Bronca
já não estava em seu caminho.
Mas, quando foi ao terreiro,
claro,
ainda anão, ainda baixinho,
encontrou no galinheiro
uma galinha pintadinha
(que antes ali não tinha),
cuidando de SEIS PINTINHOS...
. . . . .
Moral da história:
SONECA FICOU ANÃO SOZINHO.