O MENINO PÁSSARO CAP 9 FINAL
O MENINO-PÁSSARO IX – 20 NOV 2021
FINAL
Então durante os meses de toda a gravidez,
num quarto ao lado a sua cama fez,
afirmando que não queria perturbá-la;
mas de fato, nas suas costas percebera
nova protuberância que lhe aparecera
e não queria à sua cônjuge mostrá-la...
Passados meses, foram já crescendo
as duas asas, completas renascendo,
mas sendo inverno, usou roupas pesadas.
Nasceu um menino, normal, perfeitamente,
suas costas lisas iguais às de toda gente:
suas mutações não sendo assim legadas...
Então o mutante tomou uma decisão:
um advogado contratou para a transmissão
da herança que seu tutor lhe havia deixado
e facilmente passou todo o patrimônio
ao rebento de seu triste matrimônio,
sob o controle desse advogado.
Até que sua maioridade ele atingisse
e após cada formalidade se cumprisse,
para sua casa voltou bem aliviado.
Viu a criança de sua mãe nos braços
e retribuiu-lhe todos os abraços,
de novo indo dormir no quarto ao lado.
Mas nessa noite, ele saiu para o quintal,
as asas ele abriu, nem bem, nem mal,
muito menores e mais fracas que as primeiras;
decerto com o tempo se iriam desenvolver,
mas não aguardaria por seu lento crescer:
moveu-as depressa, em agitações ligeiras.
Subiu ao céu sem mais outro pensamento
e foi cruzando o belo firmamento,
até chegar ao oceano iridescente...
“Ébrio de sol, ébrio de liberdade,
como um astro que cai da imensidade,
afundou-se nas ondas, de repente...” (*)
(*) Estes três últimos versos são os finais
de A Morte da Águia, de Luiz Guimarães Júnior.