O aroma do amor
A voz angelical atravessou o escuro do quarto;
- mãe, tá sentindo esse cheiro?
“ não, filhota, cheiro de quê?
- cheiro de vento.
Ela dormia profundo, mas afirmou tão docemente tranquila, que concentrei em investigar o olfato da madrugada; fria, macia, aconchegada na ternura da criança. Me envolvi dela inteira, em conchinha e alegria, e respirei atentamente cada pelo e poro, brisa da melhor herança, degustei nuances de cores novas, brandas emoções azuis, suaves tons lilases, doces acordes rosas de ninar. Sim, o vento tem um aroma indefinível de nenhuma lembrança, um cheiro branco e preto de qualquer beleza, colorido de libertação. Preenchida na perfeição dela, amanheci inundada na plenitude cheirosa do amor.