Boi-Bumbá. Da série Folclore

Pai Francisco e Catarina

Era um casal escravizado

Francisco vivia só a trabalhar

Cuidava da criação de gado.

Catarina estava grávida

E certa noite viu da janela

Um boi gordo e vistoso

E desejou sua língua na panela.

Justo o boi de estimação

Do terrível fazendeiro

Tratado por seu marido

Vivia o boi solto no terreiro.

Catarina contou a Francisco,

Desejava a língua do boi.

Insistiu tanto com o marido

Que matá-lo, Francisco foi.

Deu a língua a Catarina,

Ao grande boi deu cabo.

Repartiu o resto aos vizinhos

Sobraram apenas os chifres e o rabo.

Mas o fazendeiro ao sentir

Falta do seu belo animal

Mandou seu feitor

Investigar o casal.

Francisco choroso confessou:

-Matei o boi do patrão,

Para acalmar Catarina.

Desejo de grávida é vilão!

O fazendeiro caiu num choro

Que dava pena olhar .

Catarina e Francisco com medo

Fugiram daquele lugar.

O fazendeiro já não era o mesmo

Queria ver seu boi bonito voltar

Chamou rezadeiras, pagou promessas

Para o boi vistoso ressuscitar.

Chamaram um curandeiro

E, numa dessas tratativas

Assoprou-lhe nos chifres,

E o rabo começou a balançar.

O boi do fazendeiro voltou

Seu dono se alegrou

E para uma grande festa

Toda região convidou.

Francisco e Catarina sabendo do milagre

Voltaram à fazenda pedir perdão

O fazendeiro de tão feliz

Não fez da culpa questão.

Francisco e Catarina

Vestiram o boi de roupa colorida

E a festa do boi todo ano,

Era com alegria repetida.

Virou história e cultura

Era grande tradição festejar

Dançar o boi da cara preta,

Bumba meu boi, Boi-bumbá

E sempre há quem cante:

Quem comeu a língua do boi,

Boi de roupa colorida

Boi de língua comprida?

E virou folclore essa história

Era desejo comer do boi a língua

E por amor, o esposo Francisco

Satisfez a Catarina.

Paula Belmino