O ROUXINOL

O ROUXINOL

Numa selva florida banhada de luar,

Cantava o rouxinol numa noite estelar

Parecendo inspirado no zimbório celeste

Ou, enamorado da paisagem agreste

Despontava nos céus o raiar da aurora

E, jovial o trovador cantava agora

Como se despertado ao raiar do sol

E houvera adormecido ao arrebol!

Seu gorjeio, como o arpejo dulcíssimo

Pungido d'saudade sentimentalissimo

Como o choro de um amor, puro, cristalino

Executado por um poeta ao violino

E não parava de cantar o trovador

De exteriorizar o âmago de sua dor

Para em cada trinado cheio de saudade

Desprender um elo de sua felicidade!

Alando aos céus uma prece sempiterna

Como pedindo a Deus pela alma materna

Que naquela noite deixara de existir,

Indo ao recôndito lugar do porvir,

Em busca da utopia, que só Deus

Nos pode dar, bem no alto, lá nos céus!

Em busca da paz, do reino da alegria

Ao encontro do Rei do Universo e de Maria.

E naquele canto extraterreno exulcíssimo

O poeta, rouxinol sentimentalissimo

Cantou até quebrar de dor e pranto

As fibras vocais de seu mavioso canto

E, todo exangue o rouxinol inda se ouvia

Já num canto surdo, como de quem morria,

Alquebrado por aquela dor tão forte

Até que tombou ao chão, vencido pela morte!

Armando A. C. Garcia

São Paulo, 09 de março de 1964

Armando Augusto Coelho Garcia
Enviado por Armando Augusto Coelho Garcia em 17/11/2005
Reeditado em 23/02/2008
Código do texto: T72738