O menino que tricotava
O menino que tricotava
Comprava as suas linhas
Na esquina de casa
Escolhia as mais baratinhas.
Fazia seu tricô sentado na grama
Do parque infantil
Todos ficavam espantados
Com aquele menino primaveril.
Como pode um menino tricotar
Isso é coisa de menina
Ele podia bem brincar
De carrinho ou de buzina.
Mas o menino nem ligava
Para o que o povo dizia
Fazia o seu tricô
Em meio ao sol que o dia coloria.
Aprendeu com a vovó
A muito bem tricotar
Começou com uma meia
E foi crescendo o seu labutar.
O menino dizia a todos
Quando eu crescer
Farei tricô para vender
E um bom comerciante ser.
Os vizinhos achavam graça
Naquele menino meio meio
Não-sei-o-quê
Tinha jeito de gay e era feio.
Não era feio o menino
Pois seus cachos foram benzidos
Pela vovó que achava
Seus pés com cajus parecidos.
Tinha jeito de gay e era feio
Comentava o vizinho
Um menino magricelo
Que tricota e fala fininho.
Quanto mais o povo falava
Mais o menino tricotava
Fazia um tapete
Para uma casa que voava.
O menino ouviu comentários
Do que era ser gay
E despertou nele curiosidade
Ei?
Será que sou gay
Vou amar um homem
Só porque faço tricô
E as flores me comem.
O menino foi falar com a vovó
Meio envergonhado
Cheio de meios seus
Falou meio de lado.
Mas a vovó não entendeu
Vovó, com quantos anos serei gay
A vovó já esperava a pergunta
E respondeu: não sei.
Ela não sabia se o menino
Seria gay de verdade
Ele tinha um jeitinho afeminado
Talvez fosse a sua pequena idade.
O que importava agora
Era que ele fazia o que gostava
Suas meias e casacos de lãs
Bonito tricotava.
Ninguém pode se tornar gay
Só porque faz um trabalho
Que se diz feminino
Assim não teria o orvalho.
Vá tricotar, meu netinho
Esqueça essa história
Ser gay é coisa de adulto
Deus vai traçar a sua trajetória.
Então, o menino pegou a sua agulha
E bastante rolos de linhas
Sentou-se de frente a casa
Começou pelas pontinhas.
Queria fazer um tricô
Grande o bastante
Para todo mundo ver
Que seguiu com seu sonho adiante.
Gostava de tricotar
Vestidos às amiguinhas
Meias aos amiguinhos
Com as suas coloridas linhas.
Não importava a ninguém
Se gay um dia se tornasse
Era pequeno demais
Para com aquilo preocupasse.
O papai não queria dele saber
Tinha vergonha do seu fazer
Menino que faz tricô
Gay eu sei que vai ser.
O menino revoltado
Fez um tricô gigante
Que atravessava as nuvens
E encontrava uma estrela cintilante.
FIM
O menino que tricotava
Comprava as suas linhas
Na esquina de casa
Escolhia as mais baratinhas.
Fazia seu tricô sentado na grama
Do parque infantil
Todos ficavam espantados
Com aquele menino primaveril.
Como pode um menino tricotar
Isso é coisa de menina
Ele podia bem brincar
De carrinho ou de buzina.
Mas o menino nem ligava
Para o que o povo dizia
Fazia o seu tricô
Em meio ao sol que o dia coloria.
Aprendeu com a vovó
A muito bem tricotar
Começou com uma meia
E foi crescendo o seu labutar.
O menino dizia a todos
Quando eu crescer
Farei tricô para vender
E um bom comerciante ser.
Os vizinhos achavam graça
Naquele menino meio meio
Não-sei-o-quê
Tinha jeito de gay e era feio.
Não era feio o menino
Pois seus cachos foram benzidos
Pela vovó que achava
Seus pés com cajus parecidos.
Tinha jeito de gay e era feio
Comentava o vizinho
Um menino magricelo
Que tricota e fala fininho.
Quanto mais o povo falava
Mais o menino tricotava
Fazia um tapete
Para uma casa que voava.
O menino ouviu comentários
Do que era ser gay
E despertou nele curiosidade
Ei?
Será que sou gay
Vou amar um homem
Só porque faço tricô
E as flores me comem.
O menino foi falar com a vovó
Meio envergonhado
Cheio de meios seus
Falou meio de lado.
Mas a vovó não entendeu
Vovó, com quantos anos serei gay
A vovó já esperava a pergunta
E respondeu: não sei.
Ela não sabia se o menino
Seria gay de verdade
Ele tinha um jeitinho afeminado
Talvez fosse a sua pequena idade.
O que importava agora
Era que ele fazia o que gostava
Suas meias e casacos de lãs
Bonito tricotava.
Ninguém pode se tornar gay
Só porque faz um trabalho
Que se diz feminino
Assim não teria o orvalho.
Vá tricotar, meu netinho
Esqueça essa história
Ser gay é coisa de adulto
Deus vai traçar a sua trajetória.
Então, o menino pegou a sua agulha
E bastante rolos de linhas
Sentou-se de frente a casa
Começou pelas pontinhas.
Queria fazer um tricô
Grande o bastante
Para todo mundo ver
Que seguiu com seu sonho adiante.
Gostava de tricotar
Vestidos às amiguinhas
Meias aos amiguinhos
Com as suas coloridas linhas.
Não importava a ninguém
Se gay um dia se tornasse
Era pequeno demais
Para com aquilo preocupasse.
O papai não queria dele saber
Tinha vergonha do seu fazer
Menino que faz tricô
Gay eu sei que vai ser.
O menino revoltado
Fez um tricô gigante
Que atravessava as nuvens
E encontrava uma estrela cintilante.
FIM