O palhaço

Quando menina tinha um palhaço teimoso, de louça, desses que ficam sempre em pé: a gente empurra e ele volta para a posição inicial. Era meu brinquedo preferido, tinha muito ciúme dele e não deixava ninguém pegar. Um dia minha irmãzinha caçula insistiu muito, então, deixei que ela segurasse o palhaço um pouquinho. Coloquei ele no peitoril da janela para que pudesse olhar um pouco a rua e minha irmã o ficou segurando após mil recomendações. Num descuido ela soltou o palhacinho que se espatifou todo no chão. Fiquei inconsolável, chorei dias e não teve promessa de outro palhaço igual que me consolasse. Depois do luto fiz esse poema em homenagem ao palhacinho teimoso.

Era um palhaço comum,

Sem graça peculiar.

Mas eu o amava tanto,

Só pelo gosto de amar.

Numa loja muito simples

Por certo ele foi comprado

Talvez se fosse elegante

Já não seria tão amado.

Fizesse frio? – o agasalho.

Se calor? – eis a sombrinha.

Eram tantos os cuidados,

Não olvidar uma pontinha.

Ia o tempo passando

E a atração mais crescendo

O meu amor aumentando

E ele mais me querendo

O nosso amor cresceu tanto

Que o coração não aguentou

E o palhaço pequenino

Logo, logo arrebentou.

Lenalice
Enviado por Lenalice em 23/06/2018
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