O palhaço
Quando menina tinha um palhaço teimoso, de louça, desses que ficam sempre em pé: a gente empurra e ele volta para a posição inicial. Era meu brinquedo preferido, tinha muito ciúme dele e não deixava ninguém pegar. Um dia minha irmãzinha caçula insistiu muito, então, deixei que ela segurasse o palhaço um pouquinho. Coloquei ele no peitoril da janela para que pudesse olhar um pouco a rua e minha irmã o ficou segurando após mil recomendações. Num descuido ela soltou o palhacinho que se espatifou todo no chão. Fiquei inconsolável, chorei dias e não teve promessa de outro palhaço igual que me consolasse. Depois do luto fiz esse poema em homenagem ao palhacinho teimoso.
Era um palhaço comum,
Sem graça peculiar.
Mas eu o amava tanto,
Só pelo gosto de amar.
Numa loja muito simples
Por certo ele foi comprado
Talvez se fosse elegante
Já não seria tão amado.
Fizesse frio? – o agasalho.
Se calor? – eis a sombrinha.
Eram tantos os cuidados,
Não olvidar uma pontinha.
Ia o tempo passando
E a atração mais crescendo
O meu amor aumentando
E ele mais me querendo
O nosso amor cresceu tanto
Que o coração não aguentou
E o palhaço pequenino
Logo, logo arrebentou.