AMOR AOS DOZE ANOS
Um daqueles amores,
dos que sempre acertam,
e por isso mesmo,
quis me surgir assim:
em minha escola,
no primeiro dia,
dentro da sala
do oitavo ano.
Meu amor agora vive ali.
Vive
e para o meu encanto,
senta na segunda cadeira
da primeira fila
ao lado da janela,
está presente na chamada,
e nem rabisca a lousa.
Eu o vejo tanto
que naquela prova
de matemática
meu amor saiu antes,
saiu para que eu soubesse:
amor
ao se multiplicar,
não precisa provar
e nem aparecer,
pois ele surgirá depois,
no fundo do pátio,
quase na saída,
perto da esquina,
ou no fim da rua.
Amo,
e não quero
que o meu amor sofra,
por examiná-lo assim.
Meus olhos se esticam
até o seu pescoço,
até os seus cabelos
e os outros notam
e talvez zombem,
deixando-me nervoso,
por estar errado,
quando sei que amo;
quando amar
é quase perceber:
o amor pode se transformar;
ter outro rosto
pra você reconhecer.
Digo isso porque ontem,
eu me distraí
e o meu amor grudou
um “piercing” dourado,
na ponta da língua.
Agora ele parece mascar
um chiclete diferente;
mastigar um pedaço
da própria orelha;
e parece também um amor torto,
pois vejo em cada lóbulo
um brinco
em formato de caveira.
O meu amor se dobrou
se misturou,
mas sei que por isso mesmo,
por este amor me entortar tanto,
meu amor,
um dos que sempre acertam,
acertou em mim
Do livro: "A criança, substantivo sobrecomum"