Pereirinha
Pereirinha era um garoto triste,
magro, macilento, manco
Mal conseguia ficar em riste
Tombava para a direita de seu flanco
Era conhecido como Pereirinha da Triste Figura
Em homenagem ao personagem de Cervantes:
Dom Quixote, aquela criatura
Que pensava lutar contra gigantes
Contudo o garoto coxo era inquieto
Fazia muita bagunça e muita arte
Mesmo não conseguindo ficar ereto
Ele corria por toda parte
Um dia, pela cercania da cidade
em que ele vivia
Viu algo com muita felicidade
Um pomar que o fim não se via
Tratou logo de subir em uma das árvores
Como ele conseguiu não se explica
Comeu as suas frutas aos pares
A regra das boas maneiras não se aplica
De repente ouviu um grande estrondo
E um galho da árvore em dois se partiu
Era um trabuco segurado por um homem redondo
Que com o disparo por pouco não caiu
Pereirinha desceu do pé de árvore mais rápido que um raio
E claudicando percorreu num segundo um metro
O homem seguia logo atrás, numa perseguição dando início
E com o menino à frente gritando: – Vá de retro!
E chegaram aos limites da cidade vizinha
Pereirinha quase sendo alcançado
O Redondo só não contava com a Valinha
A esta altura o homem já havia rolado
E no fim da vala o homem parou
de rolar e naquele lugar ficou preso
A praguejar aos céus o homem ficou
Enquanto Pereirinha escapava ileso
E foi assim que se deu a aventura
Com a barriga cheia e um sorriso no rosto
Pereirinha da Triste Figura
Voltou pra casa com o semblante ao oposto