Infância
A mãe mandava
E o menino corria,
E varria, e varria,
As folhas do abacateiro.
O chão ficava limpinho,
E vinham as brincadeiras
De bola com o primo amigo,
Que de embaixada em embaixada
Mostrava sua mágica,
Com os pés, com o calcanhar
Deixando a plateia encantada.
Uma plateia pequena,
A mãe, o filho
Quem mais chegasse
E aquele pendor apreciasse.
Um dia o primo se foi...
Foi pra longe casa dos pais.
De lá não voltou mais.
Ficou assim na lembrança,
Aquele menino moreno,
Que foi jogar futebol
Lá nos campos de Deus Pai.
Todo dia a mesma coisa,
O abacateiro resistia,
Mais folha dele vinha
Do que fruta produzia.
O menino em sua faina
Pegava a vassoura e varria...
E depois do chão varrido
Vinham de novo as brincadeiras.
Havia até um caminhão,
No chão enterrado o volante.
Ele então fazia viagem,
Viagem de sonho constante.
Sem sair do seu lugar,
Voava sem temer o perigo.
Podia à Lua chegar,
O sonho é o melhor abrigo.
O terreiro não mais existe,
Um prédio o lugar ocupa.
Tudo muda, tudo passa,
Mas o sonho sempre persiste.
Novas crianças empoleiradas
Em caixas habitacionais,
Vivem assim suas jornadas
Muito longe dos quintais.