CRIANÇA
Não sei o que dizer
Nem o que pensar
Porque o silencio fala por mim
Como numa mímica mal resolvida
Ainda sou aquele gurizinho
Que brincava com bonecos de plástico
Inventando um novo alfabeto
Um roteiro louco para as brincadeiras
Coisa de criança sem afeto
Não vou reclamar do que passou
E nem do que está para chegar
Afinal, o que passou é passado
E agora não da para chorar pelo leite derramado
Gostaria de ser feliz
Nem que seja um pouquinho
Como já fui uma vez, há muito tempo
Mas hoje me sinto a beira do abismo
Um abismo criado por mim mesmo
Hoje tem sol lá na rua
Vou chamar meu amigo
E a gente vai brincar
Até o dia acabar
Jogando bola no barro
Ou correndo como se soubéssemos do futuro que está para chegar
Hoje vai ser um dia para se lembrar
Daqui há vinte anos ainda vou lembrar de hoje
Pena que nem sempre as coisas vão ser assim
Sei que um dia vou perder minha inocência
E conhecer o mundo de forma cru e dolorosa
Uma forma que nenhuma criança devia conhecer...