Canção de ninar...
Cante-me uma canção,
mamãe!
Uma canção de ninar...
Cante-me numa
melancólica melodia
como só tu sabes cantar!
Cante-me com a voz baixinha,
sombria...
Cante-me sobre os pesadelos,
bruxas magretes...
os duendes, diabretes,
o bicho-papão e castelos!
Tristes princesas,
fantasmas, vampiresas;
os monstros e suas presas!
Cante-me sem pressa,
num sussurro;
cante-me no escuro...
Cante-me uma tristonha cantiga
uma canção que bendiga
o frio, a dor e o medo.
Cante-a como um medonho credo,
uma prece antiga...
Não te preocupes, mamãe;
nada temo.
Fale-me de horrores
e desesperos,
de todas as coisas
impuras e imperfeitas!
Mas, por favor, mamãe, cante-me!
Cante-me sobre tudo que aprecio.
Só o que temo, mamãe,
é o teu silêncio...