O RITUAL DA CHUVA
Onde canta a saracura
Nos quintos da brenha escura
Deu-se um festejo
De espaventar os cabelos
. . . . .
Escondeu-se o jabuti na toca
No antro das minhocas
Tamanha folia
Que o bruxedo fazia
. . . . .
Uma banda de sapos
Línguas de trapo
Batiam os queixos
De torto a direito
. . . . .
Um bando de sacis pernetas
Faziam caretas
Pendurados no cipó milhome
Onde rosnava o lobisomem
. . . . .
Uma cambada de ogros
Papadores de restolhos
Pularam a canga
Prá juntar-se a zambra
. . . . .
Um gárgula mostrengo
Com asas de morcego
Olhos cor de fogo
Resmungava como lobo
. . . . .
A bruxa Malastéria
Entre todas a mais feia
Com seu cajado de madeira
Catava lenha prá fogueira
. . . . .
Saracoteavam um ritual
Num pentagrama de sal
Na forma duma estrela
No lume de velas
. . . . .
Cantavam feito corujas
Invocando chuva
E o céu respondia
E a lua se escondia
. . . . .
E ao cair a chuva
Se foram em vassouras de guamxumba
Deixando no espantalho
Um coração riscado
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .