o senhor "V"
viviam correndo pelo campo
onde não havia perigo
sempre alegres saltitantes,
e até mesmo as picadas dos insetos
eram doces como os beijos que recebiam
de suas mães ao acordar
Aninha e Vadinho não cansavam de brincar
de pique-esconde no meio do mato
onde falavam com as abelhas
com os colibris e as lagartixas
sem se preocupar com o fim da manhã
que era a hora em que se protegiam
da luz do sol sob a Tia Anastácia
a mais frondosa árvore dali
mas naquele dia a menina achou
que a sombra da árvore não estava sorrindo
e se deparou com um medo esquisito,
não era a picada de um novo mosquito,
que nunca sentira em dia nenhum
foi quando o amiguinho saia do mato
correndo assustado porque um cão bravio
o perseguia com um sorriso malvado
mas quando Vadinho alcançou a sombra
da Tia Anastácia onde Aninha já estava
o cão se deteve e não mais avançou
e os dois amiguinhos puderam fugir
de noite Aninha, ainda com medo,
procurava saber como é que seria
o dia seguinte, se ela poderia
brincar com Vadinho no campo outra vez
e aí se lembrou que sempre que brincava
parecia que alguém lá de longe a olhava
formando no céu a figura de um V
e quando o V ela via, num instante
sentia no rosto o sabor refrescante
da brisa mais doce que já existiu
e por isso achou que esse V era o vento
que devia ser tão bondoso e amigo
e até protetor pra livrar do perigo
que ela e Vadinho podiam encontrar
e assim implorou ao senhor V de vento
que lhe desse a certeza e depois o alento
de poder novamente no campo brincar
com o seu amiguinho de novo a correr
no campo e depois no mato se esconder
no dia seguinte o cão lá estava
então deu um vento tão forte e violento
que tudo envolveu, parecia um tormento,
deixando de fora Aninha e Vadinho,
a Tia Anastácia e os campos floridos
e o cão do olhar tão malvado sumiu
no espaço pra sempre, ninguém mais o viu
nem a chuva o trouxe de novo pro chão
e Aninha e Vadinho puderam brincar
de pique-esconde e as flores beijar
com beijos que eram de retribuição
Rio, 19/09/2006