O amor de Pocotó

A índia Menina

escondia o corpo

com plumas de ema

e pavão.

Adornava os seios

colares de dentes,

pulseiras de capim,

unhas de gavião.

Adormecia ouvindo

o canto das selvas,

acendiam estrelas

na palma da mão.

O corpo despido,

Iluminava cavernas;

acima das nuvens

ouvia a manhã.

Movia os ombros,

e os cabelos,

adornados com fios

de seda e lã.

Dormia em taperas,

não via perigos

no meio das feras.

Encontrava duendes

escondidos nas grutas

com cestas de assados

doces e frutas.

Entre palmeiras

descia a tarde

molhada e fria.

A índia Menina não via

nem perto, nem longe

o eco do amor,

nos lábios do índio,

que imitava cavalos

trotando nas pedras.

Cheio de calos,

andava a mancar

e sempre a dizer:

'pocotó', 'pocotó',

'pocotó'...

Cansada de ser só,

movia os cabelos

no meio do pó.

Ao amanhecer,

ao longe ouvia:

'Pocotó' 'Pocotó...'

Numa tarde de abril

quando o sol iluminava

as flores e as ervas,

Índios jovens e velhos

pararam de pescar,

caçar e correr,

a índia Menina

tornou-se mulher.

Festejaram na chuva,

o encontro da lua

e do sol.

A índia Menina

cortou os cabelos.

Ao amanhecer,

versos de o amor

nasciam nas águas,

no meio do tempo,

no meio do pó'.

A índia Morena

trançou os cabelos,

e neles deu nó.

Os ventos chegavam

de todos os cantos.

A índia Morena,

cheia de encantos,

casou-se como índio,

e todas as noites,

ouvia "Pocotó,

Pocotó"...".

chamado Pocotó.

Raimundo Lonato
Enviado por Raimundo Lonato em 17/01/2013
Reeditado em 16/08/2013
Código do texto: T4089906
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