O amor de Pocotó
A índia Menina
escondia o corpo
com plumas de ema
e pavão.
Adornava os seios
colares de dentes,
pulseiras de capim,
unhas de gavião.
Adormecia ouvindo
o canto das selvas,
acendiam estrelas
na palma da mão.
O corpo despido,
Iluminava cavernas;
acima das nuvens
ouvia a manhã.
Movia os ombros,
e os cabelos,
adornados com fios
de seda e lã.
Dormia em taperas,
não via perigos
no meio das feras.
Encontrava duendes
escondidos nas grutas
com cestas de assados
doces e frutas.
Entre palmeiras
descia a tarde
molhada e fria.
A índia Menina não via
nem perto, nem longe
o eco do amor,
nos lábios do índio,
que imitava cavalos
trotando nas pedras.
Cheio de calos,
andava a mancar
e sempre a dizer:
'pocotó', 'pocotó',
'pocotó'...
Cansada de ser só,
movia os cabelos
no meio do pó.
Ao amanhecer,
ao longe ouvia:
'Pocotó' 'Pocotó...'
Numa tarde de abril
quando o sol iluminava
as flores e as ervas,
Índios jovens e velhos
pararam de pescar,
caçar e correr,
a índia Menina
tornou-se mulher.
Festejaram na chuva,
o encontro da lua
e do sol.
A índia Menina
cortou os cabelos.
Ao amanhecer,
versos de o amor
nasciam nas águas,
no meio do tempo,
no meio do pó'.
A índia Morena
trançou os cabelos,
e neles deu nó.
Os ventos chegavam
de todos os cantos.
A índia Morena,
cheia de encantos,
casou-se como índio,
e todas as noites,
ouvia "Pocotó,
Pocotó"...".
chamado Pocotó.