CRIANÇA
Ao longe, vejo-o aproximar-se
descalço
sobe a rua a cambalear
pés feridos
braços nus, corpo franzino
pequenino
mais parece um pássaro
caído do ninho
sem asas para voar.
Sua sombra o acompanha
certa de guardá-lo
cobre-lhe o corpo
querendo ser sua penugem
rala, quase nada, não o protege do frio
que lhe rasga a alma
por estar tão vazio.
Suas mãos se estendem
sem firmeza no ar
sua voz se levanta num gemido
quase a chorar
os rostos se voltam em comiseração
mas ele, a piedade não busca
ao pedir-lhes um pedaço de pão.
As portas se fecham
as costas se voltam
descaso
com a geração do futuro
que na vida sofre seus ais
desrespeitada
bate-se nas ruas
sem o refúgio de um lar
onde possa viver em paz.