O Guloso Senhor Tempo
O Tempo,
Guloso que ele é,
Tudo engole
Engole a dor,
Engole a raiva,
Engole a tristeza,
Até o rancor
E seria bom
Se engolisse só essas coisas ruins
Mas o tempo,
É mesmo um senhor glutão,
Engole também as coisas boas,
Que acalmam o coração.
Engole a infância,
Engole a amizade,
Engole alegria,
Até o colo de mãe quem diria.
E é mesmo uma pena,
Que engula essas coisas.
O tempo faminto devora
A felicidade o lamento,
Na mistura da sua panela
Tudo transforma em momento.
E da menina infância engolida,
Faz nascer colo de mãe,
Da tristeza que às vezes nos alcança,
Faz brotar flor de esperança.
O tempo é assim,
Passeia solto no espaço,
No sua despreocupada marcha
Certeza líquida e certa,
É que dele não escapa ninguém
Há muitos séculos
Os homens tentam explicar
Que fome é essa do tempo
Está sempre a nos rondar.
Uma coisa, entretanto,
Eu te ajudo a saber,
O tempo não são as horas
Que engolidas também vão ser.