VIAJANDO NA MAIONESE
Queria ver uma ovelha
Penteando a sua lã,
Um careca de manhã
Penteando a sobrancelha.
No vaso, um gato sentado,
Porque lhe faltou areia,
Uma aranha armando a teia
Com fio pedido emprestado.
Um chupim fazendo ninho
Ao tico-tico sem teto,
Uma avó cuidando o neto
Sem viciar o "tadinho".
Um joão de barro em greve
Reivindicando aumento,
Um lagarto calorento
Se bronzeando na neve.
Corvo tapando o nariz
Pelo cheiro da carniça,
Correndo, um bicho preguiça
Mais veloz que javalis.
Queria ver uma cobra
A própria língua morder,
Um gato quando morrer
Se mais seis vidas lhe sobra.
A caça com espingarda
Atrás do seu caçador,
Louva a deus furtando cor
Para pintar a sua farda.
Um bicho de seda ter
Sua própria fiação,
Fazer camisa, blusão,
Ir ao mercado vender.
Queria ver um pintinho
Com uma pintinha preta,
Um patinho de chupeta
Com duas patas no ninho.
Uma formiga saúva
Com um machado nas costas
E de nojo, um vira-bostas
Em cada pata uma luva.
Um sapo na “batera”
Tocando um rock “paulera”,
E uma rã bem “doidera”
Cantando para a “galera”.
Toda a criança da terra
Na imaginação vivendo,
E cada adulto sabendo
Que paz não se faz com guerra.