INDIO PIRÁ
Valdemiro Mendonça
Na mata quente e sombria,
Caminha tenso o índio Pirá.
A azagaia sempre em riste,
Ouve de Iara o canto triste,
E o seco mugido do boi tatá.
Índio Pirá saíra bem cedo,
Da rica taba onde morava.
Para provar seu bom valor
Conquistando o grande amor,
De Mirí a quem ele amava.
Pirá queria o xodó de Mirí,
Mas o pai dela foi exigente,
Traga-me um saci lá de fora
E traz também um caipora,
Se quiser ser o meu parente.
Na trilha do porco do mato,
Pirá armou trapa de bambu,
Deixou goiaba e raiz de maní
Depois se escondeu perto dali,
Até chegar a vara dos catetu.
Pegou um filhote mais novo
Que ficava sempre gritando,
Amarrou o porco na embira
Pendurou no pé de sucupira,
Ficou escondido observando.
O céu vestiu seu manto negro
Jaci bem brilhante apareceu.
O som da mata foi-se embora,
Pirá divisou o vulto do caipora,
Que soltava o porquinho seu.
Preparou a sua corda mágica
Feita em talo de fumo maduro.
Até Jaci lá no céu se assustou,
Com o urro que o bicho soltou
Quando viu que estava seguro.
O caipora chiava e soltava fogo,
Da sua boca nariz e pelo ouvido.
Ameaçava de morte ao índio Pirá,
Pulava no mato pra lá e pra cá,
Acreditando que estaria perdido.
Quando enfim o bicho acalmou,
Pirá contou-lhe todo o seu azar,
De Mirí, a mulher que ele queria,
O presente que o pai dela pedia,
Para deixá-la se casar com Pirá.
Vendo que o índio era valente,
O caipora disse, vou lhe ajudar.
Solte a laçada da corda de fumo
Vamos logo tomar o nosso rumo,
O rei dos sacis vamos encontrar.
Numa clareira da escura mata
Em volta de uma clara fogueira,
Rindo e pitando cachimbo de vó
Os sacis pulando numa perna só,
Cantavam fazendo grande zoeira.
Caipora então foi lhes narrando,
O aperreio do índio apaixonado...
Revoltando a tribo dos sacizinhos
Que entraram em um redemoinho,
Levando o bravo Pirá, enamorado.
Chegaram num instante na taba
Pegaram o velho cacique sabido,
Amarraram em cima do cavalete
E cada saci bateu com um cacete,
Até ele desistir do tal dote pedido.
O que aquele velho sabido queria,
Era um caipora, para ele amarrar.
Assim os bichos ficavam sozinhos,
Ele então obrigava aos sacizinhos,
Ir para a mata, todo bicho caçar.
Depois que ele tomou aquela surra,
Foi para muito longe daquele lugar.
O Pirá casou-se com sua linda Mirí,
Mudaram-se daquelas matas dali,
Em outras terras eles foram morar.
Trovador.