TARDES MOLECAS
As tardes brincam de meninas
Fazem casinhas, jogam velha,
Bordam o céu, pintam neblinas,
Chovem chuvas de groselha.
Sopram bolhas de ventanias
Com sabão de guache amarelo,
Salpicam pós de fantasias
O horizonte gris caramelo.
Um sol de repente aparece
Cercado de um halo matiz,
Vem um raio, risca, estremece
E desce num traço de giz.
A d’alva pisca e o sol vai,
Uma andorinha só revoa,
Uma réstia dourada sai,
Prenúncio de uma noite boa.
O poeta pintor recolhe
Sua cartolina pintada
De sonhos, antes que ela molhe
Com o orvalho da madrugada.
E sonha com estrelas cadentes
Riscando o horizonte infinito,
Acorda ouvindo docemente
Seu poema em cores escrito.