SOU CRIANÇA
Não tenho espaços, sou prisioneiro.
O barranco tapa todos meus horizontes,
Não vejo flores, passarinhos cantando,
Campos floridos onde quero correr,
E sentir a brisa afagando meu rosto,
Pois as energias fracas quero gastar.
O que vejo muito me entristece,
Pois logo em frente ao meu barraco,
Onde queria ver um rio saltitante,
O esgoto corre solto exalando mau cheiro,
E não tendo pudor, só traz desgraças,
Doenças que me atingem pela desnutrição.
Queria ter um lar onde pudesse sonhar,
Pois ser criança é sorrir, saber brincar,
Correr solto, desimpedido, subir em árvores,
Como outras crianças o fazem e eu não posso,
Por razões que não entendo, sendo tão igual,
Mesmo que ande sujo e roupas esfarrapadas.
Na noite escura ouço ratazanas catando migalhas,
Tudo de sobras que não temos pois sofro fome,
E se ameaço espantá-las nas suas algazarras,
Podem me morder com presas afiadas e venenosas,
Mostrando ousadias pois no barraco são donas,
Mesmo sendo tão nojentas para ali morar.
É assim a minha vida de criança pobre,
Onde no inverno sofro frio por não ter cobertas,
E no verão vejo o córrego sujo se avolumar,
Pelas chuvas intensas que levam nossas posses,
Poucas diante do nada que meus pais não tem,
Pois a sociedade ignora nossas existências.
15-02-2012