descendo a ladeira

o velho sentado na calçada,

parecendo não querer mais nada

além daquele olhar vazio...

um menino se aproximou esguio,

querendo saber o seu nome:

- chamo-me velho, apenas

- mas velho é um adjetivo

- é também um nome, para qualificar as coisas

- uma pessoa não é uma coisa. Chamo-me Marcel

- mar e céu. Tá vendo? Duas coisas, aparentemente infinitas

- o céu, sim; o mar, não

- foi o que te ensinaram. O homem, quando olha lá de cima,

parece que vê tudo. Só que a vida dele é aqui embaixo.

Quando tudo se torna maior

- não tinha pensado nisso. Mas você não me disse o seu nome

- qual a importância que tem o meu nome diante

do teu olhar, que me convida a ficar mais alegre?

o velho aceitou a mão do garoto e os dois

começaram a descer a rua, ligeiramente inclinada

- se a chuva caísse agora,

as águas começariam a descer, com a gente

- sei o que é isso – a função da gravidade

- pois é, Marcel, o homem, lá de cima, não consegue ver isso...

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 18/10/2011
Reeditado em 18/10/2011
Código do texto: T3283545
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