descendo a ladeira
o velho sentado na calçada,
parecendo não querer mais nada
além daquele olhar vazio...
um menino se aproximou esguio,
querendo saber o seu nome:
- chamo-me velho, apenas
- mas velho é um adjetivo
- é também um nome, para qualificar as coisas
- uma pessoa não é uma coisa. Chamo-me Marcel
- mar e céu. Tá vendo? Duas coisas, aparentemente infinitas
- o céu, sim; o mar, não
- foi o que te ensinaram. O homem, quando olha lá de cima,
parece que vê tudo. Só que a vida dele é aqui embaixo.
Quando tudo se torna maior
- não tinha pensado nisso. Mas você não me disse o seu nome
- qual a importância que tem o meu nome diante
do teu olhar, que me convida a ficar mais alegre?
o velho aceitou a mão do garoto e os dois
começaram a descer a rua, ligeiramente inclinada
- se a chuva caísse agora,
as águas começariam a descer, com a gente
- sei o que é isso – a função da gravidade
- pois é, Marcel, o homem, lá de cima, não consegue ver isso...