BACORETE, O LEITÃO

BACORETE, O LEITÃO

Nasci numa noite fria de inverno,

Filho de uma mãe com pouco instinto materno.

Nascemos num total de dezesseis,

No primeiro dia minha mãe esmagou seis.

Sobramos treze para poucas mamas,

Cada um por si com nossos dramas.

Veio o homem e cortou meu rabo,

Eu fiquei feio como um diabo,

Cortaram meus pequenos dentes da frente

E aplicaram uma injeção de ferro que me deixou doente.

O tempo passava e via as folhas da estação

Tentava brincar isso era uma tentação,

Éramos restritos, faltava espaço suficiente

Restava apenas comer de maneira incoerente.

Às vezes parava e olhava para as arvores tão distante

Imaginava bandos de porcos e cães com suas matilhas

Correndo pela campina vivendo e matando e salvando suas filhas.

Mas aqui na granja estava preso numa ilha

Apenas sonhava com a liberdade que maravilha.

Assim eu cresci em minha vida

Do cocho para o bebedouro era sempre a mesma ida.

Foi num dia de verão

Estouro como um rojão

Vi mortos caídos pelo chão

O raio despertou minha razão.

Apenas fugi sem ter asas apenas casco

Fugia sentindo atrás de mim cheiro de churrasco.

Corria para a mata sem saber o que eu era

Suíno, porco, leitão, bácoro, bacorete ou quimera

Fui criado para ser bacon e pernil

Via na criança mimada um monstro hostil.

Lombo para a Páscoa do tal Salvador

Mas será que ele queria matar e causar dor?

Entrei na floresta com dor na alma

Sentia tudo menos o sentimento da calma

Eu estava ali sem saber se eu era um leitão

Eu estava livre ou se eu morava numa prisão

Como saber o certo e errado se não tinha referencia?

Comer grama, inseto, tubérculo qual minha preferência?

Pensando comigo mesmo vi tal criatura

Ela corria no meio do bando sem frescura

Eu estagnado no meu cansaço

Ela determinada como o aço.

Mesmo assim tentei seguir o seu caminho

Entrando no mato me ferindo com espinho.

Todos me olhavam com curiosidade

Até mostravam um pouco de maldade.

Assim seguia o bando de javali

Perto deles era lerdo como um jabuti.

Apenas ela olhava para mim

E quando fazia isso era o fim.

Um dia veio o cheiro maravilhoso

Senti algo no peito glorioso.

Sentia uma súbita coragem

Queria explorar toda a paragem

Mas tinha que lutar com os vários machos

Por ser diferente estes vinham em cachos.

E eu briguei horas a fio

Em nome do amor e do cio.

Machucado e lesionado caído no chão

Com certeza ele não era o bom.

Mas ao abrir os olhos ali esta a javali

Ela o rodeava com se ela fosse um colibri

E ele ali machucado fosse flor de maracujá

Ali ele fechou os olhos no estado do Paraná.

A javali deitou ao lado do bácoro

Espero ele acordar para começar um namoro

Ela grunia e era o som mais sonoro

Pois para ele ela era pássaro canoro.

Aos poucos nosso amigo bacorete leitão

Recuperou a força e viveu uma paixão

Com medo do homem e da volta à prisão

Foram andando por toda a região

Chegaram num lugar lindo a Reserva do Palmito

Neste mesmo dia ela deu a luz a um leitão lindo

Foi um único filhote marrom e branco

Em formas de listras pelo flanco.

O seu filho era meio porco e meio javali

Era esperto e deslizava com um sucuri

Javaporco hibrido da família do suíno

Podia o amor produzir algo tão genuíno?

Tendo como líder o leitão de nome Bacorete

E na natureza para ele todo dia era banquete.

André Zanarella 22-04-2011

Bacorete = Bácoro = Leitão