Para os meninos que se engatam nos barcos

Outubro de 2007

Meu Pai do Céu

Protegei pra engatar

O meu gancho no barco

Que lá vem a passar

Eu preparo a corda

A canoa aprumar

E eu miro certeiro

O pneu acertar

Meu Pai do Céu

Consegui engatar

Me agüenta irmãozinho

Que só falta amarrar

E eu pulo no barco

O palmito mostrar

É um conto cumpadre

Pra poder me ajudar

Cresço em fel

A tardinha chegou

Com o vento bem frio

E a noite um horror

E na volta pra casa

A tormenta pegou

E se o casco se vira

Irmãozinho quedou

Cresço em fel

O meu medo passou

Os meu doze inteiro

Mais vale um avô

Pois tem homem medroso

No escuro cegou

Que se liga no luxo

E os outros esnobou

Tiro o chapéu

Pra quem vem me ajudar

Que me tira da lida

Desse duro penar

Que me bota na escola

E que vem me ensinar

Be com a be-a-bá

O que é manejar

Tiro o chapéu

Pra quem vem gargalhar

Duma prosa animada

Uma festa dançar

E esquece a má vida

O exemplo apontar

Pro irmãozinho que tenho

O caminho guiar

A vida é mel

Brincadeira eu sou

Me divirto remando

Maresia pulou

Se errei no navio

E a canoa afundou

O balanço da bicha

Dou um tchás e voltou

A vida é mel

E o sol me queimou

Camarão que levei

Minha fome catou

O que vendo não rende

Minha mãe me avisou

Ela sonha de um dia

De me ver um dotô

Meu Pai do Céu

Vou me aventurar

Nesses rios do Senhô

O Riozão enfrentar

Pois eu sei que seu Porto

É um bom de abraçar

É a melhor esperança

Nesse mundo que há

Enquanto os homens

Não aprendem a brincar

Ser criança de engate

E um sonho atracar

Açaí uns paneiro

Umas vagens de ingá

É limão é banana

Compre taperebá...