ASSIM NASCE UM ANJO
I
Era uma vez um anjo!
Não um anjo desses
Que encontramos
Nos livros da igreja,
Ou daqueles
Que nos acompanham
Desde o primeiro choro
Até o ultimo suspiro.
Era um anjo pequeno,
Be,e,e,em pequenini,i,i,inho!
Com as plumas
Ainda em penugens,
Como um passarinho
Sem penas nas asinhas
Lá no alto da arvore,
Bem dentro do seu ninho.
Com suas irmãzinhas;
Estrelinhas pequeninas,
Tão pequeninas como ele!
Ao lado da lua;
Senhora sábia e zelosa!
Que a todos ensinava
Os segredos das estrelas
E o destino dos anjos ,
Lá no céu ele vivia
A brincar de pique esconde
E pular amarelinha.
Mas, do que ele mais gostava
Era das histórias
Que dona lua contava
A suspirar apaixonada!
Sobre um lugar distante
Que lá ao longe se avistava.
Histórias que falavam
De um grande espelho
Onde ela penteava
Seus cachos prateados
Enfeitando-se para o sol;
Que ás vezes a encontrava
Quando já de regresso
Por ele ela passava.
Histórias que falavam
De montanhas majestosas
Com coroas brancas
E florestas imensas!
Repletas de arvores gigantescas
Cercadas por campos verdes
Pontilhados de flores coloridas
Onde as crianças
Brincavam felizes.
-Crianças!
-O que são crianças?!
Perguntava curioso.
-Crianças! respondia a lua,
são anjos pequeninos,
assim como você!
-E eles têm asinhas?
-Não, eles não têm.
-Coitadinho deles!
-Dona lua!
-Fala menino!
-Me leva com a senhora
Pra brincar com eles?!
-Mas nem que o sol derreta!
A terra não é lugar
De anjo passear.
II
Cadê o anjinho?!
Quando o sol
Ia aparecendo
Todos iam dormir,
E só acordavam
Depois que o céu
De negro se tingia.
E foi numa dessas
Que o anjinho sumiu,
E nunca mais apareceu!
Todos por ele
Procuraram sem parar,
Mas não o acharam
Mesmo tendo revirado
O céu inteiro.
Querem saber
O que aconteceu
Com nosso querido anjinho?!
Calma! Eu vou contar!!
Um cometinha
Ainda sem carteira
Resolveu sair
Em aventuras
Pelo céu a passear,
E como não sabia
Muito bem manobrar,
Quase atropelou
O nosso amiguinho
Em sua nuvem a dormir
Arrastando-o sem querer
Em sua louca corrida.
Quando o anjinho acordou
Quase morreu de susto!!!
Ao ver as estrelas
Passarem por ele
Em desabalada carreira,
Sem saber, e nem entender,
O que estava acontecendo
Começou a chorar,
E chorou tão alto
Que o cometinha;
Escutando aquele berreiro,
Percebeu o que tinha acontecido;
-hei! Hei! Que barulheira é essa?
Pare de chorar!
Eu não posso parar
E agora não dá pra voltar,
O jeito é você se segurar
E aproveitar a viagem.
E dizendo isso
Acelerou mais um pouco,
Enquanto o anjinho
Balançava de um lado
Para o outro
Sem parar.
No começo ele nem
Abria os olhos direito
Com medo de cair,
Mas depois
Foi se acostumando
E até começou a gostar.
-Pra onde o senhor
Está indo?perguntou.
-Ao planeta dos homens!
Respondeu o cometinha.
O anjinho quase não acreditou,
Finalmente iria ver
O mundo tão bonito
Do qual dona lua
Tanto falava.
-Segure firme
que estamos chegando!
Gritou o veloz cometinha
Enquanto mergulhava
Contra uma bola azul
Que surgiu a sua frente
E pouco a pouco
Foi crescendo! Crescendo!! crescendo!!!
Revelando a eles
Um cenário maravilhoso!
Lá embaixo um espelho azul
Estendia-se de lado a lado
Perdendo-se no horizonte,
Não um espelho comum
Desses que ficam parados
Na parede do quarto.
Aquele espelho estava vivo!
As ondas se agitavam
Arrastando uma grinalda
De um branco borbulhante
Como se fossem noivas
Indo a um casamento
Na beira do mar
E tivessem pressa
De lá chegar.
-Tome cuidado!
Vou fazer uma curva
Junto daquela montanha
Que se estende
Sobre a mata
E pra casa vou te levar.
Avisou o cometinha
Já em planos de voltar.
O anjinho gritava
E batia palmas:
-que bonito! Que lindo!
Eu quero mais!!
Eu quero mais!!!
Os pássaros coloridos
Em revoada sobre a mata
Pareciam serem anjos
Em coro de boas vindas.
-Mais um pouco!
Espere mais um pouquinho!
Pedia o anjinho.
Mas o cometinha
Tinha pressa
E logo que a curva
Acabou mais adiante
Acelerou rumo ao espaço
Sem nada avisar.
O anjinho, na surpresa
Da curva fechada
Que de uma vez aconteceu,
Soltou suas mãozinhas
E do alto foi caindo e caindo,
Até que parou de cair.
Não caiu no mar,
Não caiu na terra,
Caiu dentro de uma nuvem
Macia e perfumada
Onde um anjo grande
E sem asas
O tomou nos braços
E começou a cantar
Colocando em sua boca
Um pedacinho
Do seu corpo,
Um pedacinho macio
De onde saia
Um liquido branco
E saboroso.
“Nana neném, que a cuca vem pegar,
Papai foi na roça,
Mamãe foi passear.”