o homem e o canarinho
- oi, canarinho
não fuja, não precisa ter medo de mim,
come o teu alpiste e a canjiquinha,
não vá embora
o canarinho não se afastou
ficou ouvindo o homem
os dois naquele jardim
o jardim já estava agora dentro do barco
que se afastava da praia,
que se afastava da costa,
indo pro meio do mar,
pra longe das pessoas,
pra longe de suas loas
de disputa, incompreensões, violências,
lutas e desavenças, maldade e injustiça,
tudo na mesma treliça
só que o homem não podia agora
mais comprar alpiste ou canjiquinha,
as árvores não teriam como crescer
e o canarinho pra onde voar
então, o que poderia sobrar?
e a cena se congelou
para não se derreter
e alguma coisa ficou:
a falta de solidão
que não fez mais mal a ninguém –
o homem tinha o canarinho
e ele o tinha também