TENHO FOME

Sou pequena e menina esperta,

mamãe me diz que sou bonita,

e quero trilhar caminhos lindos,

pontilhados de flores tão macias,

e perfumadas para papai sorrir.

Minha casinha não tem belezas,

sómente vasos floridos da mamãe,

e as vasilhas brilham de tão limpas,

só que nelas os alimentos faltam,

pois somos pobres da periferia.

Papai desempregado perambula,

na busca de empregos seguros,

e ao voltar frustrado então chora,

só que as lágrimas eu não vejo,

pois se esconde de tanta vergonha.

Mamãe com carinho cata as miudesas,

grãos de feijão com um pouco de arroz,

e um resto do fubá gostoso quase no fim,

temperando com sal e colocando água,

para a sopa rala ser o alimento do dia.

Fingem comer e mais alimentos eu ter,

só que percebo que também tem fome,

e para mim deixam os contados grãozinhos,

um pouco de feijão misturado com arroz,

pedindo que coma para mais forte ficar.

Como entender que vou ficando fraquinha,

não tenho forças nem para esboçar sorrisos,

e as fraquezas se espalham pelo corpinho,

pois as vitalidades de criança sapéca não tenho,

para brincar, correr, apostar corridas, ganhar.

Tenho fome sem compreender as razões,

pois outras crianças tem tantas comidas,

que vejo na tela da TV já tão desgastada,

e quando comem bolos sujando os rostinhos,

aí então fico tristinha por não poder comer.

31-08-2010